15 anos,  Estimulação sensorial

Se não entendo o seu limite, como te ajudar a superá-lo?


*Use fones de ouvido para escutar o áudio melhor.

Por muito tempo eu pensei que seria assim: daria para minha filha apoio, terapia e resolveria cada dificuldade que fosse surgindo. Como quando você faz uma lista de tarefas e vai marcando o que já foi feito.

Hoje, estou lidando na adolescência da Milena com dificuldades que persistem desde que ela era um bebê. Ou seja, não passa, não resolve, apenas modifica. E por quê? Porque a vida é assim, a visão de mercado que nos modula, a educação que até hoje atende a uma lógica de linha de produção, faz a gente partir o tempo e estabelecer metas. Mas ninguém pensa que depois da meta cumprida a vida segue e exige manutenção, reconstrução, reformas, revisão… Pois bem, no Autismo é bem assim também.

Aqui me vejo lidando com as questões sensoriais que eu percebi lá nos primeiros meses de vida e que, depois de tanta terapia especializada e tantos progressos, voltam em outro nível e exigem retomada de consciência. Perdi tempo? Investi à toa? Absolutamente não. Tenho certeza de que sem tudo o que fizemos até aqui o nível de comprometimento da Milena seria beeem maior.

Ela tem apresentado dificuldades motoras referentes ao sistema vestibular devido ao crescimento (ela tem hoje quase 1,75 de altura) e também apresenta o sistema proprioceptivo pedindo estímulos constantes. Graças a Deus estudei muito, aprendi muito e tenho podido atender as necessidades dela neste período de adolescência, que estaria sendo um pesadelo se a gente não soubesse o que sabe.

Quando pra entender é preciso saber mais

Todos nós recebemos estímulos do mundo através dos nossos sentidos 24 horas por dia. Estamos ouvindo, sentindo cheiros, sentindo o toque da roupa, o impacto do movimento, nos equilibrando, enxergando, saboreando… Mesmo dormindo estamos lidando com as sensações que nos chegam. Nem dá pra contar quantos movimentos de ajuste e modulação, seleção e adaptação fazemos a cada segundo.

Toda essa informação recebida vai para uma região do cérebro para ser organizada. Há no cérebro um centro de controle que modula, seleciona e dá um destino a todos os estímulos recebidos, mesmo os que você não se deu conta.

Já imaginou se você tivesse consciência constante da sensação do ar entrando em suas narinas, ou as imagens trazidas pela visão periférica? Por exemplo, todas os produtos daquelas vitrines do shopping? Pois é, nós modulamos tudo isso sem nem perceber.

Porém, para as pessoas com Autismo – e muitas outras – não é assim. Muita gente no mundo sofre com o transtorno do processamento sensorial e isso significa que essas pessoas vão receber estes estímulos de uma forma muito mais ou muito menos intensa. Este sistema de controle desregulado traz consequências diretas para o comportamento, aumenta a ansiedade e traz sofrimento para o corpo todo, como acontece com alguém que vive constantemente sob forte estresse.

Lide com um desconforto intenso ao mesmo tempo em que trabalha em algo que te exige a atenção e você vai poder formar uma ideia vaga do que estas pessoas enfrentam todos os dias. Tudo isso pode tornar as pessoas com Autismo mais reativas, mais impulsivas e fazer com que seu comportamento oscile de uma hora para outra.

Pode ser também que estas pessoas busquem estímulos para acalmar este estado interior desorganizado. Se balançar por exemplo, ou agitar as mãos, buscar impacto pulando ou se batendo, são algumas das muitas formas de regulagem deste desequilíbrio sensorial.

O que estimula e o que acalma a pessoa com Autismo que você cuida? Você consegue dizer? Se não, observe, olhe atentamente como ele ou ela se comporta e tente ajudar dando os estímulos que este indivíduo busca antes que se traduza em comportamentos que você vai julgar inadequado ou numa crise com gritos e agressões.

Ler comportamentos, investigar os motivos da ação ou da reação não é mesmo fácil, mas é essencial para o bem-estar desta pessoa. Aposto que você já faz isso de forma intuitiva, pode então começar a implementar as estratégias para que esta estimulação e regulagem sejam mais adequados.

Uma boa estratégia é a “dieta sensorial”. Pesquise a respeito, você vai perceber resultados bem imediatos, ela não tem a ver com alimentos, mas com o oferecimento de estímulos ao longo do dia para que a busca ou a aversão sejam canalizados.

Integração Sensorial e desenvolvimento

A terapia de integração sensorial conceitua o desenvolvimento infantil – cognitivo e motor – como resultado de um funcionamento adequado do sistema sensorial (tátil, visual, auditivo, olfativo, gustativo, vestibular e proprioceptivo). Se você fornece sistematicamente estímulo sensorial adequado à necessidade da criança, o sistema nervoso central é forçado a processar estes estímulos e como consequência amadurecer.

Um exemplo: se a criança tem dificuldade com a propriocepção, isso fica evidente se ela não consegue permanecer muito tempo em uma posição, não percebe se você coloca um adesivo na pele dela sem avisar, gosta de impactos, pula ou corre muito, etc. Você pode colocar uma faixa usada em atletas enrolada em suas pernas enquanto faz exercício de pular ou mesmo caminhar depressa, ou pode colocar uma mochila pesada em suas costas subindo e descendo degraus. Pode também levá-la com frequência para pular no pula-pula, ou fazer atividades na bola de Pilates…

As estratégias são inúmeras e são abundantes os exemplos nas redes sociais, Youtube, livros e revistas especializadas, além claro, da terapia de integração sensorial propriamente dita, o método Bobath ou mesmo a natação, ginástica olímpica, patinação ou ainda mesmo qualquer atividade física que favoreça estes estímulos. Mas lembre-se de respeitar limites, oferecer estímulos modulados à necessidade de cada individualidade. O Terapeuta Ocupacional ou Fisioterapeuta especializado são os profissionais indicados para ajudar você com isto.

Porém, o ponto mais importante desse post é salientar que o autista que está diante de você precisa ter certeza de que você entende seus limites e acredita de verdade em seus potenciais. Se você não tiver condições de oferecer atividades ou terapias adequadas, ainda assim, seu acolhimento real e compreensão irá fazer uma enorme diferença. Nenhuma terapia no mundo será capaz de ser bem-sucedida se a pessoa não se sentir verdadeiramente acolhida e apoiada.

Se quiser ler mais sobre este assunto aqui no blog:

Umas palavras sobre Processamento Sensorial

Autismo e Processamento Sensorial

http://mundodami.com/2012/09/27/complementando-o-post-anterior-sugestoes-de-atividades-de-estimulo-sensorial/

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Quero que você saiba que não tenho a pretensão de apontar nenhum caminho nem ensinar nada. Tudo o que está escrito aqui tem a minha versão pessoal, baseada na minha própria vivência e que tem funcionado para mim e para minha filha.

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