O que seu filho perde com a inclusão

Há muito tempo atrás na minha infância eu ouvia os adultos contarem uma historinha curta e bem significativa: O garoto adorava o avô que morava em sua casa, um dia ajudando a mãe a colocar a mesa, achou injusto colocar pratos bonitos de vidro para todos e para o avô uma bacia de madeira. É o que acontece quando amamos as pessoa – quando amamos de verdade – queremos que elas tenham o que temos, que vivam as alegrias que vivemos. O menino um dia indignado colocou para o avô querido os pratos de louça e seu pai o repreendeu dizendo que o avô já estava velho e que tremendo e poderia quebrar a louça cara.

Pouco tempo depois o menino brincava tão quietinho que o pai foi ver o que o estava distraindo a tanto tempo e o viu brincando com argila, fazendo um pequena bacia. “o que está fazendo?”, perguntou o pai. “Estou aqui pai, fazendo a sua bacia que eu terei na minha casa, quando chegar a sua vez de ser o velho.”

Bem essa história ilustra bem o que eu gostaria de dizer aos pais da escola da Ana, que questionam se a professora do primeiro ano não estaria deixando de dar mais atenção aos filhos típicos, por ter essa linda garotinha com autismo na sala.

Conviver com a diferença

Eu não sei medir o tempo de atenção que seu filho típico merece. Ele tem mesmo direito à melhor educação. Mas eu sei te dizer dos valores que ele vai se inspirar para passar o resto da sua vida. Sim, dividir a atenção, construir o próprio conhecimento, saber que existem pessoas diferentes, entender o que é ter que abrir mão aqui e ali, mas também ganhar um beijo subitamente sem esperar.

Presenciar uma mudança de humor , mas ver também a expressão da alegria mais autêntica, que ele talvez nunca tenha presenciado e marcar sua vida para sempre quando perceber que ajudou alguém que precisava dele quando ninguém mais estava olhando.

Conviver com a diferença é fazer do seu filho uma pessoa preparada para conviver no mundo, é sedimentar um valor que ele vai usar com o patrão, o empregado, a esposa ou o marido e vai usar também com você, quando chegar a hora e o diferente for você.

Quem tem um amigo de inclusão na sala de aula tem oportunidade de crescer como gente de valor.

Não negue isso a seu filho acreditando que minutos a mais de atenção do professor titular vão fazer que ele leia mas rápido ou consiga logo somar dois mais três… O conhecimento virá tenha certeza disso. Mas o valor da solidariedade, este vem pelo exemplo.

Por uma sociedade mais saudável

Um último argumento para que você possa pensar. Uma sociedade que separa as pessoas competentes das pessoas que não o são é uma sociedade que permite o aparecimento dos ditadores, daqueles que um dia se acham no direito de separar ainda mais e matar ou colocar em campos de concentração quem não serve na forma padrão que ele pensou. Quem não é inteligente e bonito, quem não branco ou quem não tem olho azul… Uma sociedade que exclui se torna cada vez mais violenta.

Vamos olhar para o mundo de forma diferente para que o mundo seja finalmente diferente, melhor. Vamos educar nossos filhos para olhar para a diferença e lidar com o desconforto de não saber o que falar ou como agir com aquele que não age como ele, que não consegue ou não precisa fazer o que ele faz.

Vamos ser mais fraternos, vamos ser mais humanos e nossos filhos vão aprender muito mais que conteúdos na escola, eles também vão poder aprender como é bom conviver, como é simples ser feliz.

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Marilei
Marilei
8 anos atrás

Adorei!!!!!

Sandro
Sandro
8 anos atrás

Puras verdades.

regina
regina
8 anos atrás
Reply to  faustacristina

Tudo isso se resume em amor ao próximo, independente se algo o difere ou não do considerado “padrão”…. Devemos simplesmente amar…<3

Catia
Catia
8 anos atrás

É muito triste que um lugar de aprendizado como a escola se desenha na sociedade, esteja tendo que “discutir” o tempo de um e o tempo de outro…. Espero de coração que essa profe não seja esmagada pela pressão que deve estar sentindo e consiga continuar sendo imparcial e dando mais atenção a quem precisa, sendo diferente ou não do restante da turma. Ou será que estes pais desejam que não haja alunos diferentes e se cronometre a atenção da profe para cada aluno? Juro que não consigo entender isso….

Marilene
Marilene
8 anos atrás

Lindo Cris… inspirador!

Gláucia Vieira Cândido
Gláucia Vieira Cândido
8 anos atrás

Isso aí! Mãe de filho dito “especial” e de filho dito “não especial” ou “comum”, sei bem o que os meus filhos podem ganhar ou perder com a inclusão. Linda reflexão. Parabéns!

alexandra
alexandra
8 anos atrás

lindo texto!só que escolas não incluem é utopia,crianças especiais não tem direito de evoluir segundo escolas normais.

Sonia Maria C.Tavares.
Sonia Maria C.Tavares.
8 anos atrás

Como me conforta estas reportagem, comentário há 02 meses percebi que meu neto de 02 anos apresenta todos sintomas de autista .

LAURIMAR
LAURIMAR
8 anos atrás

É UM EXEMPLO DE VIDA… VAMOS RESPEITAR AS DIFERENÇAS..

Fernanda
Fernanda
8 anos atrás

Estou tendo muitos problemas com inclusão do meu filho que está no 2° ano. A professora não se interessa por ele, ele não desenvolve as atividades da sala, e sinto com as palavras dela, que o que ela quer é “se livrar” da presença dele na escola. Por mais que ele não entenda, é muito triste ver ele passando por isso..

Manuel Gonçalves Ribeiro

A gente sabe que é correta essa forma de agir, entretanto, como é difícil pô-la em prática, como é difícil pensar que seu filho é um estranho, como é duro pensar que seu filho é um qualquer e que deve ser tratado de forma tão distante, mesmo sabendo que é o caminho correto………como é difícil…..

Danielle
Danielle
8 anos atrás

Deveria ser fixado na entrada de cada escola! Perfeito!!!

Rosana
Rosana
8 anos atrás

Amei, sou monitora e apaixonada pelos meus alunos e tenho muito medo que um dia os pais dos alunos regulares reclamem, adorei o teu texto e irei sugerir como leitura na reunião de pais … forte abraço

Roberta
Roberta
8 anos atrás

Delícia de texto! Obrigada muito obrigada! Vou levar! Beijo em vocês.

Luciane Passos
Luciane Passos
8 anos atrás

sou mãe do Bruno. ele tem 19 anos, tem Síndrome de Williams, tem deficiência intelectual. sempre estudou em escola regular. maravilhoso o texto. faço dele as minhas palavras. sem conviver, não conseguimos transformar nossa sociedade e quebrar o preconceito

Rayanny
8 anos atrás

Belo texto!!!
Que mesmo com dificuldades consigamos transmitir ao maior número de pessoas, o quão importante é tratar a todos com respeito, dignidade e amor. O mundo está cada dia mais corrompido e os valores se perdendo, mas que isso seja visto como impulso para todas as pessoas que ainda acreditam em uma convivência harmônica.

Mara
Mara
8 anos atrás

Minha filha de 5 anos de idade, tem um experiência nova a cada dia em sala de aula, pois tem um coleguinha, que a faz chegar em casa todos os dias e contar suas “artes”, ela conta com tanto carinho…

Mônica Guedes
Mônica Guedes
8 anos atrás

Seus argumentos são válidos mas não encontro cuidado e dedicação quando falamos de inclusão voltados para os que possuem necessidades especiais. O portador de necessidades especiais tem direito de ser acompanhado por profissionais capacitados à sua necessidade em um ambiente escolar direcionado à ele. Quando falamos em inclusão eu vejo mais a preocupação de atender pais que tiveram filhos que possuem necessidades, suprirem suas carências ou necessidades abrindo mão do direito dessa criança de ter cuidados voltados única e exclusivamente à ela. A demagogia, a discriminação e a falta de bom senso gera um divisor quase intransponível para assuntos que… Leia mais »

Cristiane de Santana Piazera
Cristiane de Santana Piazera
8 anos atrás

Boa tarde !!!
Sou Coordenadora Pedagógica e
o texto é maravilhoso. Estarei repassando para os professores e pais da nossa escola. Muito obrigada.

Maria Helena Macedo
Maria Helena Macedo
8 anos atrás

A mais pura verdafe

Regiane
Regiane
8 anos atrás

Amei o texto ,igualdade para todos e aprender com as diferenças .Boa.

Sandro Ribas de Oliveira
8 anos atrás

estou dando aulas em escola publica e tenho minhas ressalvas com relação a este assunto. Só numa sala eu tenho um aluno altista que pira geral e bota o horror geral na sala e uma surda muda, que grita o tempo todo sem parar( eu não me comunico com ela e ela é extremamente mau comportada e não faz absolutamente nada do que eu proponho). Esta sala em especial é a visão do inferno, pois estes dois caros, não só não aprendem nada como praticamente destroem minhas aulas, a paz e o aprendizado de todos. Creio que tudo seria melhor(… Leia mais »

Bel
Bel
8 anos atrás
Reply to  faustacristina

Muito boa sua resposta, Fausta! Tenho dó desses alunos, que não têm um professor de verdade, aquele que busca o conhecimento para ajudá-los, e não ajuda os outros alunos a entenderem e viverem com as diversidades da vida. O comodismo e a preguiça tornam a vida mais fácil e medíocre. Ao caro professor, saia da sua zona de conforto e tente realmente fazer diferença na vida de seus alunos. Acho que quem mais tem á aprender é é você, uma pessoa que não sabe nem escrever direito o nome da deficiência de seu aluno, não procurou nem saber á respeito… Leia mais »

ridalva
ridalva
8 anos atrás

Adorei eu também tenho um filho com autismo e estar se desenvolvendo muito bem graças a Deus…

Ana Paula
Ana Paula
8 anos atrás

Parabéns Fausta Cristina pelo texto que nos remete a uma reflexão diária.
Sou professora e tenho em minha sala crianças especiais, E desejo muito que elas sejam vistas com o coração e não com os olhos. Bjs

Dalci Marcon
Dalci Marcon
8 anos atrás

A criança especial necessita sim de atendimento especializado, mas também precisa estar em escola regular para interagir com seus pares. Todos ganham com a inclusão: a criança com necessidades especiais desenvolve-se melhor, os coleguinhas aprendem a conviver com as diferenças e tornam-se adultos melhores, conscientes e mais capacitados para conviver em sociedade e os professores aprendem a se superar. É fácil? Não! Mas é aplicável e tenho visto ótimos resultados.
Gostei muito do seu texto Fausta, espero que muitos pais leiam e consigam entender que só há ganhos para todos!

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[…] O que seu filho perde com a inclusão […]

Renata
Renata
3 anos atrás

Eu tenho certeza do que vou falar…. somos mais felizes quando vivemos em nosso grupo. Meu filho é feliz porque não tem essa de inclusão. Não precisa viver e ficar aceitando coisas absurdas que são etiquetadas como RESPEITO. Respeito é viver no seu grupo. É crescer ao redor de pessoas que te compreendem. Eu conheço Londres, Estados Unidos, e outros países. É muito diferente do Brasil. Eu não posso ser obrigada a conviver com violências diárias em uma sala de aula ou fazer meu filho ser obrigado a conviver com isso. Não posso ser obrigada a conviver com funk, com… Leia mais »