Umas palavras sobre Processamento Sensorial

Eu sinto saudade quando fico muito tempo sem publicar um post… Sinto falta também de receber comentários ou e-mails. Mas é que ultimamente eu tenho sentido dificuldades em escolher o que escrever no blog. Sempre me preocupo em registrar a minha vida com a Milena, pois como já contei aqui, tenho um sério problema de memória. Esqueço, ou melhor, apago totalmente de minha mente muitos fatos, experiências e acontecimentos e mesmo que eu os queira reter, não consigo.

Quando eu tive a minha segunda filha, hoje com vinte anos e mãe da minha neta, vivi um momento de muita emoção, claro. O parto dos meus filhos foi de longe os melhores momentos da minha vida, por isso eu queria reter aquele momento uma vez que do primeiro parto eu já tinha me esquecido de muitos detalhes. Então eu fiquei maebebedurante um mês ou mais rememorando por várias vezes ao dia, tudo o que tinha acontecido naquele 07 de julho. Pois bem, hoje ainda me lembro de muitos detalhes, mas não de tudo… a emoção, o momento do nascimento dos três, estão aqui no coração, mas a memória sempre me trai.

Por isso o blog, mas não só por isso. Além de aprender muito com todos vocês que se comunicam comigo, eu tenho também a pretensão de contribuir de alguma forma com as pessoas que querem saber mais sobre Autismo. Eu sinto uma forte necessidade de ser útil e retribuir de alguma forma as dádivas que recebo, desta forma, não basta vir aqui e relatar como foi minha quinzena, é preciso escolher o tema, escrever com clareza, selecionar imagens e tentar chegar ao coração de quem me visita.

Para ter sucesso em um post, preciso estar sozinha, sem distrações e inspirada. Muitas vezes algo acontece e eu quero registrar, mas quando sento pra escrever, qual o quê! Não lembro mais e perco a vontade de prosseguir.

Palestra sobre Processamento Sensorial

autismo-terapia-ocupacionalEste mês eu dei uma palestra no Instituto Autismo e Vida e vou novamente falar a respeito em outro evento, do Processamento Sensorial x Autismo. Este tema tem me instigado muito, pois como sabem Milena tem uma forte disfunção sensorial. Pesquisas apontam para um índice de mais de 90% dos indivíduos com Autismo apresentando comprometimentos sensoriais e a pesquisadora que desenvolveu a Terapia de Integração Sensorial, a Terapeuta Ocupacional Jean Ayres, acabou tratando muitos dos comprometimentos das pessoas com Autismo como a dificuldade de atenção e as hiper ou hipo sensibilidades de tato, paladar, olfato que acabam gerando muitos comportamentos inadequados nas pessoas com Autismo.

Muitas vezes, o balanceio do corpo, bater na cabeça, emitir sons ininterruptamente, pular, tapar os ouvidos, as estereotipias motoras (movimentos sem função como abanar as mãos, por exemplo). São expressões de que uma carga de informação sensorial chegou, foi sentido com muita ou com pouca intensidade e não conseguiu ser organizada pelo indivíduo que, sobrecarregado busca formas de descarregar esta energia.

Já experimentaram esticar bem os braços em um alongamento depois de passar por uma situação de stress? Como isso traz uma alívio para o corpo! Ou quando estamos saindo de um exercício e tomamos um banho, o quanto a sensação é boa? O bem estar vem porque descarregamos esta energia e imaginar tal energia acumulada sempre, nos faz entender como se sentem nossos autistas e o quanto precisam de nosso apoio e conhecimento para se organizarem perante os estímulos que recebem do mundo a todo momento.

Processando informações

Nós estamos o tempo todo recebendo informação do mundo através de nossos sentidos. Uma luz que chega aos olhos, uma imagem, um cheiro, a sensação da roupa tocando o corpo, um barulho. Imagina como estamos expostos a todo tipo de sensação e como nosso organismo precisa de competência para receber, filtrar, selecionar e transformar a sensação mais adequada para o momento em recurso para a ação?

ISNoShopping

Imagine se há uma falha neste intrincado processo, quantos transtornos não seriam vividos pela pessoa? Pois é o que acontece com minha filha. Em alguns momentos as sensações são demais, causam dor ou estresse, levam a uma agitação excessiva como uma super excitação dos sentidos. Me lembro de quando a Milena era um bebê e lavamos ela ao shopping e ela gritou o tempo todo. Depois de crescida eu penava com seus gritos e comportamentos desafiadores toda vez que íamos ao supermercado ou a lojas de departamentos.

AutismoPSensTemple

A força de um abraço

No livro Uma Menina Estranha, nossa querida Temple conta o quanto seu sistema sensorial afetava seu comportamento e o que ela chama de “máquina do abraço” é a prova viva de que o stress gerado por um sensorial desregulado exige a adoção de posturas muito específicas, neste caso a compressão. Ela queria a sensação de ser abraçada, mas não suportava o contato físico de outra pessoa por isso inventou um equipamento acolchoado onde ela entra e consegue controlar com que intensidade as almofadas apertam seu corpo.

Vejam o vídeo:

No caso da Milena ela pede para fazer “duíche” que nada mais é do que deitá-la na cama, colocar travesseiros em cima e apertar os travesseiros, mas ela diz quando parar e faço com que ela tenha confiança em mim, assim que ela diz para eu cesso a força, logo depois ela pede de novo e assim até que ela diga que não quer mais. É interessante que ela mesma diz: -Milena tá agitada, faz duíche?

Milena fez fisioterapia quase a vida toda, sempre o método Bobath que trabalha a integração sensorial. Nos arquivos do blog, ainda no ano de 2006 tem o post em que postei as fotos do balanço de lycra que dependuramos no teto da minúscula sala de nosso apartamento no Rio. Estar atenta ao Processamento Sensorial de minha filha faz toda a diferença na sua qualidade de vida. Por isso sempre que tenho oportunidade trato deste assunto aqui, pois tenho a esperança de que outras mães se interessem pelo assunto e ajudem a seus filhos.

Por agora basta, pois estes textos imensos, ninguém merece né? 🙂

Um super hiper mega beijo em cada um que me honra com sua visita e tudo de bom!!!

O balanço de abraçar

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