9 anos,  Alfabetização,  Desenvolvimento atípico,  Métodos/Terapias

A alfabetização no desenvolvimento atípico

Desde que Mileninha veio pra minha vida eu celebro. Quase diariamente tem uma festa acontecendo na nossa casa. São momentos mágicos e descrever isso seria como tentar descrever em um texto, as cataratas do Iguaçu, ou a beleza do umfilhofazArpoador… Impossível, só quem vivencia saberá entender o que estou dizendo!

Desenvolvimento atípico

No Autismo, o desenvolvimento é muito desigual, então quando você constata uma dificuldade daquele indivíduo, ela pode não ser real, ele pode estar apenas não demonstrar o que sabe, o que já conquistou. A pessoa sabe, mas só vai fazer ou falar quando precisar. Simples assim. Difícil entender, pois a nossa lógica é tão centrada no compartilhamento, que parece que as coisas só fazem sentido se contamos, partilhamos com alguém, é pra maioria das pessoas típicas uma necessidade.

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Dessa forma, as pessoas com Autismo nos surpreendem com frequência, quando a gente menos espera mostram que sabem o que você não sabia! Ajudei na inclusão de uma criança de cinco anos e sua professora descobriu de repente que ele já sabia ler com perfeição. Milena também é assim, me presenteia desta forma com pequenas doses diárias de alegria.

Noite de autógrafos

 

Nosso trabalho em fazer com que Milena se alfabetize já dura alguns anos. Várias profissionais fantásticas emprestaram algumas horas a isso, mas a minha filha como sempre, não parece prestar a atenção devida. Hora ela parece estar conquistando a leitura outra hora ela resvala para o que pensamos ser um retrocesso. Ela já identificou palavras, depois parece ter esquecido, ou então no consultório ela reconhece a palavra várias vezes, mas em casa, em outro contexto, não consegue (ou não quer).

Ontem teve uma “noite de autógrafos” na escola, os alunos iriam autografar um CD com contos escritos por eles, eu estava cansada e não queria ir. Achei que ia “passar batido”, mas não, Milena cobrou e eu para ter uma desculpa disse a ela que não poderíamos ir, pois ela não sabia escrever o próprio nome e a atividade era essa. Ela foi ao quadro branco do seu quarto e escreveu sem erro… Há muito tempo que ela alterna nesta de escreve o nome/”esquece” como escreve o nome…

Foco e interesse

Sempre conto quando ela ainda pequenina nem falava direito e para nós parecia que ela estava muito desatenta a tudo. Caiu, teve que dar pontos e na agonia do momento a médica disse que ia acabar logo, assim que ela contasse até dez e ela contou, deixando eu e o papai perplexos. Só voltou a nomear os números de um a dez novamente anos depois e até hoje, conforme o momento ela não diz a sequência… Não sei se falta foco ou interesse.

Ela fala sem que ninguém a tenha incentivado coisas como: “bom trabalho pra você”, “sua comida estava deliciosa”, “obrigada por fazer isso”, “boa viagem”, “sua filha melhorou?”, “obrigada por falar comigo”, “desculpa te incomodar”, “você está muito bonita hoje”. Como dizer que ela está alheia como dá a entender pelo seu modo tão atípico de prestar atenção nas coisas?!

Fala

A fono que trabalha com Milena aqui em Porto Alegre é fantástica (e nos lê sempre 🙂 ) e tem feito um trabalho primoroso que tem dado resultados a olhos vistos tanto na fala quanto na alfabetização. O que ela faz lá no consultório me enche de alegria e mimulti2orgulho e me deixa espantada por me mostrar que ela consegue coisas que não sabíamos que ela sabia! O duro é achar o ponto pra trazer de dentro dela esse saber e Ângela tem conseguido isso, super parabéns pra ti querida!

Assim a gente segue celebrando, que alegria ver que ela sabe, que ela está ligadíssima, mesmo sem parecer e que ela tem muito mais dificuldade em comunicar o que sabe do que propriamente em aprender.

Atenta ao que acontece

Uma das manias da Milena é ligar para as pessoas, no seu celular tem alguns poucos números liberados, ela liga sem parar e quando consegue fala bastante com a irmã, a avó, a madrinha. Hoje falando com minha mãe, soube que a bisa está bem fraquinha, com seus 96 anos, minha avó lúcida e bela, vive entre altos e baixos com a saúde. Pois bem, assim que fomos nos preparar para dormir, contei a história de sempre, cantei a música dorme Milena (tudo inventado pela mãe) e rezamos juntas: “papai do céu, obrigada pelo meu dia e abençoa o meu soninho”, ela então me cobrou: ah! Você quêceu reza pra bisa!” 🙂

tomoucontacor2Eu espero que ela durma pra só depois vir ao meu quarto, ela então me pede: – não deixa ela ver você indo pro seu quarto, viu mamãe? Não conta pra ela que você dorme na sua cama, ela não quer saber… ‘é seguêdo’…

Milena quando as pessoas perguntarem sua idade você fala nove, agora você tem nove anos. Ela pensa e lamenta: – não é mais oito? Nossa! Onde o oito foi?

Beijos a todos e até a próxima postagem.

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Quero que você saiba que não tenho a pretensão de apontar nenhum caminho nem ensinar nada. Tudo o que está escrito aqui tem a minha versão pessoal, baseada na minha própria vivência e que tem funcionado para mim e para minha filha.

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