Conquistas e limitações

Fantástico vermos Milena se apropriando do vocabulário e aplicando nas situações adequadas. Ela tem usado expressões pouco usuais como: “Yes!!”, “imagina!”, “bah” (bem gauchês e também usa o contigo ou para ti), “está me incomodando”, “então” (aquele então que dizemos pra enfatizar algo). Pergunta o preço de tudo e argumenta: “nossa, isso é caríssimo!”. Antes de falar alguma coisa estala a língua no dente e cheia de entonação diz: – deixa eu falar pecê (para você). Me perguntou outro dia qual time ela torce mostrando que cada vez mais conceitos bem abstratos estão sendo incorporados.

HistSocRECREIOQuando a aprendizagem a apropriação de conceitos ou modos de procedimento se dá de forma natural em uma criança com Autismo, nós, pais, ficamos maravilhados. A impressão geral no dia a dia é que temos que ensinar tudo. Coisas que geralmente as crianças aprendem sem uma mediação dirigida, para as crianças do espectro do Autismo precisam ser ensinadas. Mas como nada em se falando de Autismo, é absoluto, temos muitas crianças que não são exatamente assim, pois aprendem muito de forma independente e quando os pais percebem já estão fazendo bem. Outras aprendem coisas absurdamente difíceis e o básico nem tanto, como tantos Savants que são gênios em sua habilidade de domínio e muitas vezes, não conseguem ter uma vida independente pela falta de domínio nas atividades da vida diária.

Como Milena está se comunicando

Milena tem ampliado seu repertório de palavras sem nossa ajuda. Por outro lado ela tem um vocabulário ainda muito limitado para a desenvoltura que quer imitar. Ela tem tanta vontade de falar, que vendo no YouTube vídeos diversos de crianças (agora tem visto muito as crianças no Programa Raul Gil), tenta fazer como estas crianças que já tem como característica a desenvoltura e a precocidade. Por isso ela se senta na mesa e conta: “deixa eu te falar…” e aí falta o repertório, afinal ela precisa ter assunto e não sabendo o que dizer diz coisas sem sentido, às vezes inventa palavras inexistentes. Ou imita alguma criança rezando, só que ela apenas consegue repetir a prece que fazemos à noite, bem curta e balbucia palavras inteligíveis para ficar parecendo com o que assistiu.

Tento aproveitar a chance e montar com ela um modelo de diálogo, mas ela não demonstra querer aprender, ela apenas quer falar e falar como as crianças que ela assiste e quando vê que não consegue, faz o que sabe: um milhão de perguntas. Ela tem resistência para aprender o que for comigo, preciso ensinar sem estruturar este ensino, senão ela percebe e me bloqueia.

Ainda assim, ela se comunica muito bem. Com um padrão anormal para a idade, mas muito bom considerando seus comprometimentos. Fala por quase uma hora ao telefone com a madrinha e com a avó. Dá notícias de tudo o que acontece, até mesmo coisas que pensamos que ela não percebe, como contar a elas que comprei uma mesa, que a loja não entregou e que “mamãe brigou com moço no telefone”.

Menina sensível

E essa característica de extrema sensibilidade também tem se revelado cada vez mais. Conforme a entonação de minha voz ela me questiona se estou brava, triste… outro dia eu e o pai dela estávamos conversando e no meio da conversa discordamos (coisa rara) e eu defendendo meu ponto de vista com mais ênfase e ele justificando a sua interpretação, ouvimos Milena dizer: papai e mamãe estão brigando. Paramos na hora e explicamos pra ela que não era o caso, mas nos impressionou o quanto ela estava ligada e embora parecesse que estava no “seu mundo”, percebeu a diferença sutil no tom de nossa conversa.

Às vezes ela me chama de forma mais insistente e eu respondo com ênfase: o que foi Milena! E ela na mesma hora retruca: – “não fala assim”. E eu tenho que repetir com doçura na voz: o que foi Milena, aí sim ela diz o que quer 🙂 Figura essa garotinha. Outra coisa que ela tem mania é de usar o vamos combinar para mudar algo para o jeito que ela quer. Se eu digo que não vamos na piscina ela vem com jeitinho e fala: mamãe, vamos combinar: a gente sai agora, vai no clube, nada só um pouquinho e depois volta, o que acha da ideia, pode ser assim? 🙂

Voltando das férias

Graças ao bom Deus as férias estão terminando, Milena se divertiu, indo para o clube, fomos para a praia por duas vezes, BAires1apassamos quase uma semana na Argentina – tinha que ver a peruazinha na fila da imigração exigindo que ela é quem iria segurar o seu passaporte junto com seu celular, igual a todas as outras pessoas da fila :). Mas depois de toda esta maratona e mais, dedicação full time eu estava ansiosa pelo retorno da rotina escolar.

Nas férias, com a ausência de uma rotina, tivemos muitos momentos de crise, que não são tão intensas, passam logo, mas que me deixaram triste. Coisas como beliscar – acho que consegui eliminar este comportamento – gritar, chorar, provocar e pedir repetidamente, insistentemente para comprarmos tiaras, sandálias, saia, mochila (ela já tem quatro), canetinha… affff!!! Haja paciência!

Esta obsessão por objetos tem que passar ou eu enlouqueço. Estou usando todas as técnicas comportamentais possíveis e pra driblar este comportamento tenho que inventar um milhão de estratégias, mas quando ela enche os olhos de lágrimas e faz um beicinho espontâneo me mostrando o quão intensamente quer o tal objeto quase cedo, mas tenho que ser firme e quase sempre consigo, mas sei que para ela é como se a vida dependesse de ter aquilo e a alegria quando consegue é tão grande que me deixa preocupada por todos os nãos que ainda estão por vir.

Bom, que comece então o ano de verdade! Um beijos aos corações que me visitam, que honra tê-los aqui! Obrigada!

BAires5

BAires3

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