O complicado diagnóstico
A grande maioria dos textos e informações a respeito dos Transtornos do Espectro do Autismo servem apenas como margem para nossa experiência com estes iluminados.
Você lê em um texto: a criança com Autismo não olha nos olhos, tem tendência a se isolar, etc. Entretanto, você ouve dos pais: “meu filho interage”, “meu filho olha nos olhos”.
Por quê?
Estas descrições não devem ser tomadas ao pé da letra (uma pessoa com Autismo, geralmente, imaginaria aqui uma letra com um pé). Quando lemos uma lista de comportamentos em crianças com Autismo não devemos tomar como regra geral. Tanto que nestas listas encontramos os termos: pode apresentar, geralmente apresenta…
Não existe uma regra geral
Tudo bem que seja assim, mas até que eu aprendesse isso, eu achei que minha filha não tinha nada relacionado ao Autismo. Eu lia: “Frequentemente suas expressões faciais mostram muito pouco de suas emoções, exceto se estiverem muito bravos ou agitados. São indiferentes ou têm medo de seus colegas e usam as pessoas como utensílios para obter alguma coisa que queiram”. E quando eu olhava pra minha filha eu via seu rostinho expressivo, via que ela procurava as outras crianças eu pensava: ok, Autismo, não.
Mas então o que minha filha tinha? Ela me pegava para conseguir o que queria. Me levava até o filtro e colocava minha mão na torneira. Hummm, Autismo, sim?
Dá pra entender o que passam os pais? E quando você vai ao médico e ele te diz após cinco minutos de conversa: “sua filha provavelmente não tem Autismo, pois assim que chegou aqui ela me olhou nos olhos”? Ou então: “sua filha apontou para o brinquedo da estante, autista não faz isso…”? E você sai do consultório com “uma tonelada a menos nos ombros”, mas com uma “pulga atrás da orelha” (definitivamente este texto não está sendo escrito para uma pessoa com autismo ler – eles, geralmente, são literais).
O que importa no diagnóstico
Aos poucos você começa a perceber que seu filho tem alguns daqueles sinais e que o que importa perceber é que ela tem dificuldade para estabelecer comunicação (diálogo, partilha de interesses, onde nos colocamos como ouvintes e falamos sobre o que pensamos, sentimos, queremos). Tem dificuldade também em usar a imaginação e também tem dificuldade em interagir com toda a amplitude de significados da palavra interação.
– Ah! Mas sua filha aponta!
– Sim, Dr(a). Mas com que propósito? Ela aponta o tempo todo e pra tudo, principalmente quando quer tirar o foco de atenção de cima dela.
– Ah! Mas sua filha partilha interesses! O autista não….
– …partilha Dr(a).? Ou ela quer que você participe do seu interesse restrito, do jeito e pelo tempo que ela quer, ou seja, a partir da perspectiva DELA e não da TROCA?
Argumentos como este, só podem acontecer quando olhamos insistentemente para o que as palavras técnicas do texto tem a ver com a nossa realidade. Só então começam a fazer sentido.
Por isso que informação é tudo. A troca de experiências é tudo e tornar-se um especialista no Autismo do seu filho é tudo.
Uma boa semana para todos que me honram com a visita. Que Deus ilumine de forma especial seus corações neste momento.
Obrigada.