É sempre com um suspiro que demonstramos nossa reação frente ao desenrolar de uma história de amor. Pois nada mais autêntico do que o amor amplo, incondicional, puro que Milena nutre por sua irmã, digno de provocar a admiração de todos os que presenciam o convívio das duas.

Após chegar da escola em seu primeiro dia de aula, Milena me pediu para ligar para a vovó em Uberlândia, achei que ela iria contar sobre a escola, afinal era o assunto daquele momento, mas ela queria mesmo era desabafar: -“ vovó, Tatá foi embola hoje. Milena tá com saudade dela de novo!”. E começou a chorar…

Thamires ficou uma semana conosco e ela veio para abrandar as saudades da irmã. Sabíamos que seria dolorosa a nova separação por isso preparamos uma contagem regressiva no calendário e enfatizamos o fato de que continuariam em contato no MSN (Milena adora!). As duas ficaram grudadas e Milena curtiu bastante a barriga da mana e pôde se ambientar melhor com a ideia de um bebê, pois a minha neta já está se mexendo bastante e ficou mais concreto para a Milena que ali mora um bebê.

Ver a mala sendo feita na noite anterior ao retorno da Tatá, foi o suficiente para fazer voltar a angústia e o choro copioso da minha garotinha. Fiquei muito triste ao vê-la de novo sofrendo com a constatação de que esta nova vida é repleta de separações de pessoas muito amadas por nós. Milena não fala de sua dor, não reclama quando machuca, não explica como se machucou ou como está se sentindo e isso dificulta muito o consolar.

Desta vez porém, decidi que o manejo desta situação era minha responsabilidade. Quando a Milena me perguntava: – “e agóla como ela faz sem a Tatá?” Eu respondia fazendo festa, que ela tem a mamãe e que a gente iria se divertir muito. Passei a não lamentar a situação e tive que fazer isso com sinceridade.

Somos reflexo

Há muito tempo eu sei que meu estado de espírito tem muita influência nas emoções e consequentemente no comportamento da Milena. Se estou nervosa ela me desafia, se estou com pressa ela fica lenta, se me descontrolo ela fica perguntando repetidamente se eu estou triste e começa uma crise de birra. Desta vez, percebi que havia em mim muita angústia com esta mudança. Mais do que das outras vezes, senti muito a separação da minha família, a ruptura da minha atividade profissional, minha atuação no Instituto a distância dos meus filhos e tudo isso fez com que Milena partilhasse da minha dor.

É muito difícil para qualquer pessoa se controlar o tempo todo, esta vigilância constante aconselhada por Jesus (orai e vigiai) é uma meta de vida, não se conquista assim de um dia para o outro e uma criança com autismo vai fazer com que você tenha a disciplina de se vigiar, de buscar um controle interno, manter a calma e também dar o exemplo. Essa sensibilidade extrema faz com que a gente se surpreenda com uma quase leitura de pensamento, pois ela antecipa acontecimentos que não comunicamos a ela.

A influência do ambiente

Conheço pessoas com Autismo que tem um comprometimento grave e são calmos, conheço crianças com comprometimento muito leve, mas que são agitadíssimas e apresentam desafiadores problemas de comportamento. Sei que não é culpa da mãe ou da família, mas percebo o quanto a energia do ambiente e das pessoas as afetam. Espero voltar a falar sobre isso para que minha ideia fique um pouco mais clara e não coloque mais culpa nos já tão pesados ombros de pais e cuidadores. Apenas desejo que este seja um ponto de reflexão para os familiares.

E a propósito, a escola nova está sendo uma gratificante experiência. Todos estão elogiando a Milena e ela quer muito que chegue logo a hora da escola, sinal de que está gostando. Não consigo fazê-la prestar atenção na hora da tarefa de casa (que aqui chamam de TEMA…) e confesso que chego a perder a paciência pois ela não mantém a atenção. A aprendizagem de Milena é ainda meu grande desafio, vou ter que segurar a ansiedade, mas não posso mais perder tempo.

Por enquanto é isso, agradeço muito os comentários de todos. Um forte abraço e obrigada sempre!