“A sensação”
Eu acabo transformando este cantinho em divã! Aqui vou relatando minhas angústias e anseios, registro minha admiração e alegria pela capacidade de superação da minha filha querida. Desta forma me assumo e me conheço mais. Com o retorno das pessoas em seus depoimentos, vou me reconstruindo a cada dia.
Hoje me deu vontade de falar dela: a sensação… Muitas vezes relatei aqui episódios em que “ela” estava presente e que estranho é conviver com isto. É um sentimento que me acomete vez por outra, desde quando começamos a jornada pelo Autismo. Eu olhava para Milena e sabia que ela venceria os principais obstáculos, eu simplesmente sabia disso. Mas vez por outra quando ela conquistava algum progresso eu me pegava acreditando que tudo tinha passado. Acabou, ela estava com atraso, recuperou este atraso e agora ela vai ser uma criança “normal”. Passou.
Desde bebê ficou claro para nós que Milena evolui de forma cíclica, ou seja, ganha muito em um período e no período de acomodação destes ganhos temos a sensação de que ela estagnou ou voltou um pouco atrás. Por isso, logo depois de vir esta sensação de que tudo tinha passado, eu era surpreendida por um movimento oposto, dando a sensação de que ela estava até pior.
A montanha russa do Autismo
Muitas vezes contei isto aqui. Argemiro, pai do Gabriel (Canto de Anjo) sempre descreve a jornada no Autismo como uma montanha-russa e eu tenho a nítida certeza de que realmente estou em uma montanha russa.
Ainda ontem meu marido elogiou Milena:
– Nossa minha filha, que saia bonita! Você gostou?
– Gotô, cê gotô também?
Eu achei o máximo! Além de responder imediatamente ela queria saber a opinião do pai, o que significa um grande progresso quando pensamos que as pessoas com Autismo, geralmente, não expressam a preocupação com o que o outro pensa.
Depois deste momento veio a bendita sensação: passou! Milena agora está interagindo bem, está bem na escola, está dialogando cada vez mais… passou.
Até chegar o outro dia e a acompanhante dela na escola me contar que ela deu um tapa na professora e puxou o cabelo da colega… A sensação foi embora e a realidade veio à tona: minha filha tem fases, como todo mundo. E ela é uma garotinha diferente que surpreende com seus ganhos e nos enche de orgulho, mas que também tem suas limitações, principalmente sociais. E a sensação que antes estava muito mais presente foi embora, mas não ficou a tristeza dos primeiros tempos, hoje fica um sentimento de força, como quem suspira fundo frente a um obstáculo difícil mas superável.
IV Simpósio Internacional de Autismo
Mudando de assunto…
Participei semana passada do IV Simpósio Internacional de Autismo promovido pelo centro Pró-Autista e foi fantástico. A visão do Autismo tem mudado muito, cada vez mais o diagnóstico mais abrangente mostra que no caso do autismo leve, grau que enquadro a Mi, as características são muito diversificadas e o conceito de déficit da interação social não significa que a pessoa seja necessariamente retraída. Ela tem, na verdade, uma socialização irregular e pode ser, sim, sociável demais, sem os limites usuais. Este é o caso da minha garotinha, que confundiu tanto os especialistas no Brasil.
Deixa eu terminar por aqui, pois ninguém vai ter tempo de ler um texto mais longo que este, se eu continuar “falando” serei abandonada 🙂
Beijos carinhosos, que bom ter você como leitor!