A escola da Milena em Londres
Ainda está cedo para escrever sobre como é exatamente o sistema educacional relacionado às crianças com autismo por aqui. As opiniões são muito divergentes, uma mãe que admiro muito me disse outro dia que acha que no Brasil a inclusão está muito melhor que aqui. Eu não pude evitar a resposta pronta de que não está e disse isso com base na experiência de ser voluntária e lidar com as famílias e as escolas em Minas e no Sul e também por ouvir e ler os relatos vindos de todo o país.
Quem me conhece bastante sabe que não gosto de comparações… esta coisa do melhor cantor, a mulher mais bonita, a melhor escola, a melhor cidade, o país melhor… Cada país, cada escola, cada beleza e cada talento tem valores muito diferentes que se combinam. Se um vai ser melhor em um aspecto, vai ser pior no outro e no fim esta balança ainda terá uma parte grande da preferência individual, o gosto de cada pessoa e a época que está em questão…
Por isso eu não vou comparar dizendo que aqui é melhor e aí é pior. A cultura daqui aceita mais as diferenças e isso é fato, está na história senão do país, da cidade pelo menos. Londres começou com diferentes povos convivendo e até hoje aqui o diferente é comum. Tem preconceito, tem discriminação como em qualquer outro lugar em que tenha gente, mas tem também mais espaço para o cara de cabelo verde e a senhora de noventa anos andando de patins, sem que ninguém sequer pare para reparar.
Por isso eu quero deixar claro que não estou fazendo um post colorindo de rosa o sistema educacional inglês, quero apenas compartilhar com vocês, como está sendo para nós, ok? Se te interessa saber, vai ser um prazer te contar 🙂
A escolha da escola
O nosso primeiríssimo passo foi escolher se a gente queria uma escola especial ou uma escola inclusiva, que aqui se chama mainstream, sendo que em algumas, eles tem uma unidade especial para crianças com autismo ou seja, uma sala ou mais só com autistas e que tem algumas atividades em comum com as crianças típicas. No papel, esta unidade tem como objetivo promover a inserção da criança no grupo comum, eles esperam e promovem a prontidão da criança e é deste critério (prontidão) que nascem dúvidas e surgem críticas mas isso é assunto para o futuro…
Para escolher entre escola especial ou típica eu pedi “ajuda aos universitários”. Consultei muitas amigas pedindo opinião, Marie, Andrea, dentre outras que já moraram fora do Brasil e já tiveram seus filhos em escolas com este perfil. Pedi a opinião dos profissionais que trabalharam com a Milena e depois perguntei para a pessoa mais interessada no assunto, a própria Milena: – filha em Londres você vai querer estudar em uma escola especial que tem outras crianças com autismo ou uma escola em que tem crianças típicas como era na escola do Brasil? – Quero igual do Brasil, ela respondeu. Só que não vai ser igual ao Brasil filha, as crianças falam inglês entendeu? Ela pensou um pouco (eu acho lindo demais) e me respondeu: quero escola de autista. Perguntei mais algumas vezes de outras formas para ter certeza e para que ela se lembrasse que fez parte da decisão.
Quando chegamos aqui o primeiro passo foi escolher a escola. Pesquisei e descobri uma escola que acabou de ser construída (prédio novo, mas a escola já tem anos de atendimento) com estrutura para atendimento do autista nas suas necessidades específicas. Uma escola voltada para a questão sensorial e para a aquisição de habilidades para a vida. Uma baita estrutura com um super time… ainda não sei sobre competência, ainda não sei sobre amorosidade… Mas quem quiser conhecer um pouco da estrutura, tem um link para um vídeo de apresentação da escola no fim do texto.
Daí fomos na escola, a diretora nos recebeu com a cordialidade que vemos sempre por aqui, para nossa surpresa no fim da visita ela disse que tinha uma vaga para a Milena e que para isso teríamos que escolher morar em um dos três bairros que a escola atende. Abrimos a mão e reprogramamos o orçamento para um aluguel mais caro em um lugar mais apertado e assim nos qualificamos para esta escola.
Demos andamento a um processo burocrático que eles chamam statement preenchendo formulários, enviando laudos e traduzindo alguns relatórios que trouxemos do Brasil e ainda estamos na primeira fase. Tivemos resposta que a vaga dela está garantida e que ela começa já no início do ano letivo que é em setembro. A diretora também nos adiantou que a Milena pode ser transferida a uma escola com unidade para autismo pois o objetivo deles é sempre orientado no sentido de incluir.
Desafios pela frente
Milena está bem ansiosa, claro. Ela tem tido rompantes de irritação que eu controlo com muita paciência. São comportamentos desafiadores e impulsivos que magoam mais a ela do que a mim. Quando percebe que me deixou triste ela fica ainda mais impulsiva…
Eu compreendo que ela está nervosa com a rotina nova que não está bem estabelecida e com o medo do que vai encontrar. Mas no meio de tudo isso o bom é perceber que ela está feliz com a escola. Ela me diz quase com tranquilidade, lá tem “aqueles” meninos… e se eu pergunto ela completa: “tístas mãe, igual Milena…”
Bom eu sei que muita gente levanta alto a bandeira do respeito às diferenças mas acaba julgando e condenando quem pensa diferente… Eu respeito a todos e respeito também quem está me lendo e balançando a cabeça ao pensar que este modelo de escola não é o melhor para uma criança. Eu sei, te entendo e talvez eu mesma pensaria assim me lendo em um contexto diferente deste. Mas uma das coisas que o autismo me ensinou é justamente o quanto nós devemos evitar os extremos e o quanto é perigoso julgar aquilo que não somos nós que estamos vivendo…
Eu não gosto dos extremos, e é daí que vem a palavra extremismo, que muita gente confunde com radicalismo… radical é quem fica preso à raiz de uma ideia ou princípio e extremista é quem não relativiza, está sempre lá naquele único lugar. Mas como tudo na vida é relativo, eu que defendendo os princípios de inclusão (e vou defender sempre) sei também que é preciso pensar antes na felicidade da criança. Estar em uma escola típica é um baita desafio para alguém com autismo, mas com suporte e apoio, este desafio só faz crescer quem é autista e quem não é. Porém, estar em uma escola com crianças típicas falando um outra língua em um país estranho… talvez seja um pouco demais.
Por isso termino por aqui e “quando entrar setembro” e as aulas começarem eu vou contando a vocês o que vai acontecer. Uma certeza eu tenho: se até lá eu estiver viva, minha filha vai estar bem, porque eu tenho todas as antenas voltadas para escolher, preparar, ajudar, cobrar, exigir e lutar por ela sempre. Assim tem sido e assim continuará sendo, estejamos nós onde for. Por enquanto só temos visto coisa boa… Sorte? Bênção? Não sei… só sei que sempre tem sido assim, talvez sejam meus olhos que insistem em se fixar no positivo de tudo.
Conto com vocês como sempre, pois tenho certeza que estes bons desejos de vocês que nos acompanham são responsáveis por boa parte da nossa “sorte”.
Beijos mais que carinhosos e obrigada sempre. São nove anos de parceria no blog que me fazem muito feliz.
Site da escola com vídeo de apresentação: http://www.queensmillschool.com
Q lindo o seu olhar positivo! também procuro ser assim sempre!
Me espelho em você para ser cada dia mais cuidadosa com as escolhas para o meu príncipe, eu escolhi a escola (que ele já vai para o segundo ano) por puro extinto materno mesmo, achei mais aconchegante, mais acolhedora…
Uma pergunta ficou no ar: e se a Milena não se adaptar, tem como trocá-la de sala? eles são flexíveis?
Muito obrigada Juliana!!! Sim, eles são flexíveis e nos temos muitas instâncias para recorrer sabe? Sempre pelo bem da criança. Mas claro que não temos só vantagens… tem alguns poréms… outro dia assistindo a televisão descobri que eles expulsam a criança da escola… os pais que se virem para conseguir outra mas se a criança traz problemas para a escola e isso fica bem documentado, eles podem simplesmente expulsar, achei absurdo e nesse ponto a escola do Brasil está à frente, mas eu sei e presenciei, sou testemunha até (judicialmente) de uma escola que expulsou um aluno com autismo em… Leia mais »
Comigo aconteceu uma expulsão maquiada, a diretora da escola me chamou no final do ano no último dia de aula para conversar… disse que ia “tentar” arrumar uma turminha menor para colocá-lo e no meio da conversa até mencionou um nome de uma outra escola que fazia um trabalho muito bom com crianças especiais… eu achei o cúmulo da desumanidade, foi muito pior do que ganhar um tapa na cara sabe? meu chão se abriu… mas há males que vem para o bem, hoje ele está numa escola que o acolheu, na escola anterior eu chegava para buscá-lo e a… Leia mais »
Fico aqui na torcida pela adaptação da Milena!!! E para que consigas frequentemente sorrisos radiantes como este!!!
Oh sim!!! Obrigada Elisa. A gente sabe que vai ser um grande desafio, vamos precisar mesmo de toda e qualquer palavra de incentivo e a torcida de todos.
Um grande abraço!
Vai dar tudo certo, Fausta!Estaremos na torcida por vcs!!!Obrigada por tudo..bjs!
Obrigada querida!!! Um abraço fraterno e carinhoso :]
Nossa, quanta novidade, quantos desafios! Te admiro cada vez mais, principalmente por te ver sempre otimista! Procuro pensar também sempre no lado positivo! Tive muita sorte com a escola do meu filho. Todos o receberam super bem. O psiquiatra que o acompanha faz reunião periodicamente com a professora e a coordenadora pedagógica para tirar dúvidas, o que ajudou muito pois realmente eles não sabem lidar principalmente com as birras. Também foi fundamental o acompanhamento das ATs. Hoje ele tem AT 3x/semana na escola. E nos outros 2 dias as professoras seguem a mesma linha de conduta. Progrediu muito, principalmente nas… Leia mais »
Ai Marina essa escola merece a musiquinha : “se todos fossem nomundo iguais a você”… três vezes na semana de AT é o máximo pois ajuda mas não cria a dependência e prepara a criança para as faltas imprevistas. Amei!!!
Obrigada, muito obrigada mesmo, pelo comentário, o carinho, os pensamentos positivos! Só pelo bem que geram em mim tenho certeza que te retorna a melhor energia. Segue plantando querida, a colheita é super válida quando semeamos o bem.
Beijos fraternos e carinhosos.
sera que eu encontro uma escola assim em londres para minha filha que é autista mas ja tem 22 anos
Glauce tem muitos lugares que apoiam adultos com atividades recreativas e socializantes.
Nesta idade não acho que você consiga entrar em uma escola, começar o processo.
Mas como eu disse tem muitos centros de atendimento que ajudam inclusive na inserção no mercado de trabalho.
Me manda mensagem na página do face.