Ajustes contínuos
Dia 02 de Abril, Dia Mundial de Conscientização sobre o Autismo.
Esta data importante chegando e eu aqui preparando alguns materiais de divulgação e estudando um pouco mais, pois tenho algumas palestras agendadas e é sempre bom rever trabalhos antigos e elaborar algo novo diante de tanta informação que chega sobre Autismo a cada segundo.
Com toda esta movimentação, não deixa de passar o filminho da minha jornada nesta via tortuosa. O filme que passa não é o mesmo de quando relembrei a trajetória no aniversário da Mi em novembro, o filme é o das terapias, das escolhas, dos diagnósticos, rótulos, laudos, expectativas, escolhas…
Quando leio livros, artigos, quando me aprofundo sobre alguma abordagem ou quando debato sobre a inclusão, percebo o quanto eu fui guiada até aqui pelo meu coração. Jamais vou poder responder o que seria se tivesse tomado outras decisões, é assim pra qualquer coisa na vida não é? Mas isso tem um peso maior quando a decisão diz respeito a uma outra vida sob a qual você dirige e governa e dirige um futuro que você nem sabe se estará presente.
Escolhas
Sim, tomar decisões, priorizar, investir e escolher foi o meu maior desafio, e ainda é, viu? Eu tenho que continuar definindo se a minha filha vai a lugares, come determinadas comidas, ou mesmo se interrompo ou não o seu ciclo menstrual, também defino se ela estará mais feliz em uma escola x ou na y… a decisão é minha.
Não sei quanto a você que me lê, mas tem gente que balança os ombros e diz apenas: “eu fiz o melhor que pude”… por mais confortador que seja este pensamento, a coisa não é tão simples assim. Eu não carrego culpa – já me pesam outras coisas – mas reavaliar, rever, planejar, estabelecer novas metas é uma necessidade de todos nós que estamos com alguém que é incapaz de fazer isso por conta própria!
É fácil quando penso que estou sofrendo aos montes para aprender uma nova língua e que isso é fruto de uma decisão lá atrás, quando jovem, e eu decidi deixar pra depois. Pois bem, estou pagando o preço, mas essa sou eu entende? Eu enfrento a minha dor de um jeito ou de outro, carrego minhas pedras referentes à escolhas passadas.
Para minha filha eu preciso sim, ser mais criteriosa. Mais uma vez, não tenho que carregar culpas ou arrependimentos, mas tenho que olhando pra frente, ser um pouco mais disciplinada e menos inconsequente do que me dou o direito de ser quando as coisas são para mim mesma.
Tudo no seu tempo
Pois bem, Milena ainda não se alfabetizou. Sim, investimos muito nisso… Pedagogas, psicopedagogas, psico comportamental, método silábico, global e agora – o que está funcionando – método fônico. Quando dá vontade de relaxar e pensar que “cada um tem seu próprio ritmo”, meu perfeccionismo me alcança e diz: levante e reorganize, ela precisa de você.
De tudo o que vivi e de tudo o que estou falando aqui, quero que fique uma coisa para você que está no caminho: não deixe as coisas soltas, não coloque o desenvolvimento do seu filho na mão de ninguém. Senta junto, estabelece objetivos (o que seu filho precisa aprender agora?), leia um pouco e veja o que uma pessoa precisa saber antes de aprender isso aí que você estabeleceu como meta.
Um exemplo: uma grande terapeuta, para quem paguei uma boa quantia de dólares (sim, estrangeira), me disse que minha filha precisava de autonomia, que ela precisava se vestir sozinha. Era um absurdo ela não saber ainda… pois bem, eu sabia de sua enorme dificuldade com a coordenação motora e sabia que ela ia se frustrar tanto quando não conseguisse aprender que iria sedimentar mais a dificuldade. Então comecei a trabalhar motricidade… só que não foi suficiente um mês, dois meses, foram alguns ANOS (!) e sempre mostrando também como se veste, fazendo a sequência, deixando que ela terminasse o que eu começava (aprendizagem de trás pra frente).
Há alguns meses eu ocupada e pedi para ela me esperar no quarto para que eu a ajudasse a se trocar, e me chega ela, linda na sala… tinha escolhido uma roupa adequada e se vestido sozinha. Nem precisa dizer a alegria né?
Foi assim, tava pronto, a base foi feita, foi ensinado mas não foi algo que eu tivesse que forçar antes da hora… Conheça seu filho, você vai saber a hora, apenas cuidado com a sedução da super proteção.
Fico torcendo para ter sido clara, queria ter lido algo assim algum dia lá atrás no tempo, mas tudo bem. Passei por bons bocados de ansiedade achando que no próximo mês tudo estaria diferente. Foi bom ver que sim, tudo estava mesmo diferente a cada mês, mas nada que me permitisse sentar.
Um grande e forte abraço a todos! Obrigada por vir e por me ler, sou sempre muito grata por esta sua companhia 🙂