Desenvolvendo e mantendo habilidades essenciais
Estar praticamente o tempo todo antenada às necessidades da Milena é algo comum por aqui. Não sou obsessiva e nem cuidadosa ao extremo, mas é impossível sentar aqui e escrever sem antes tentar dar um pouco de direcionamento para ela.
Se eu preciso me concentrar em algo, preciso garantir antes que ela tem tudo o que precisa para ficar sem a minha atenção por um tempo.
Minha filha é independente em um monte de coisa, ou pelo menos ela pode ser se quiser. Ela consegue se virar sozinha aqui em casa, mas ela conta com meu suporte, com a minha presença e isso é meio viciante, eu adoro essa relação, mas tenho que tomar cuidado para não proteger demais. Estimular a autonomia é exercício contínuo sabe? E é um exercício de desprendimento para cada mãe.
Da terapia/escola para dentro de casa
Aqui em casa, com Milena, não basta fazer as terapias e aprender um monte de coisas. Se ela não usar o que aprende, esquece ou então aprende mas não generaliza. Por exemplo: na terapia ela reconhece os numerais de 1 a 10 de todas as formas e modelos e consegue relacionar às quantidades que eles representam, conta, soma e até subtrai quantidades menores em jogos, brincadeiras e atividades variadas. Mas no dia a dia, se entramos no elevador e eu subitamente peço que ela aperte o número do andar, ela demora ou se eu peço que ela pegue a embalagem que tem três, ela se perde.
Não é que ela não saiba, mas leva tempo ela ouvir o que estou dizendo, processar a mensagem, acessar este conhecimento na memória e responder. E tudo se ela estiver a fim e tiver foco. Pouca gente parece entender este tempo interno do outro. Não acontece apenas com algumas pessoas com autismo, gente que se diz “normal”, muitas vezes precisa de tempo diante de uma solicitação inesperada.
Por isso com Milena quase nada vai funcionar na base do imediatismo e em alguns momentos o que ela quer não bate com o que nós queremos. Demorei a aprender que estar com pressa não me favorece, pelo contrário, parece que ela fica mais lenta se percebe que estou afobada.
Já nas terapias é muito diferente. A meu ver, na terapia ela traz tudo para sua “mesa mental”, fica tudo ali à disposição, por isso as respostas são imediatas. Mas em situações cotidianas há muitas variáveis que impedem as respostas prontas. Muitos pais acham que não está havendo aprendizado e eu pergunto mais uma vez como fiz no post passado: não aprendeu ou não mostra que aprendeu, sabe ou demonstra o que sabe apenas quando quer?
Esse é um desafio que a gente tem a todo momento, tornar este aprendizado de consultório significativo. Não basta saber colocar palitos de dentes no buraquinho, é preciso ser capaz de enfiar a linha na agulha quando for preciso.
Se ficamos muito tempo sem exigir que ela indique quantidades ou reconheça números ela demora cada vez mais tempo para atender. É assim com tudo, com lateralidade (esquerdo e direito), atributos (leve, pesado, grande, largo, colorido), conceitos (descrição das coisas) e por aí vai… Não é que transformamos a nossa rotina em ensino e nem cobramos saberes o tempo todo, apenas incorporamos na vida uma rotina de ensino que acaba se tornando natural.
Entendendo Milena neste jeito de funcionar fica bem mais fácil. Eu direciono melhor o que fazer com ela para não deixar acomodar demais. As tarefas do dia a dia são ótimas, pois dá para selecionar os garfos, contar as pessoas, colocar a mesa, fazer a cama, separar a roupa, ajudar na cozinha… em tudo os conhecimentos são transformados em prática.
Nova mania
Neste sentido eu achei uma maravilha a nova mania das pulseirinhas de elástico. Assim que ela demonstrou interesse eu pesquisei, comprei de uma marca com selo do Inmetro (pois dizem que algumas contém substâncias nocivas à saúde) e aprendi a fazer a tal pulseirinha.
Ela nem fica muito tempo envolvida, mas fica um tempo focada e muito mais do qualquer outra brincadeira que eu proponho. Meia hora, uma hora de foco já me fazem ficar pra lá de feliz! Além do mais esta atividade nos ajuda a trabalhar: coordenação motora fina, o movimento da pinça que é quando a gente junta as pontas dos dedos indicador e polegar para pegar algo, (ela trabalha estes movimentos há muito, muito tempo, mas ainda assim são imaturos para a idade dela) também selecionamos, classificamos e contamos, falamos sobre comprimento e tudo de uma forma prazerosa dentro do interesse dela.
Se você tem um filho com Autismo deve viver muitos momentos assim não é? A gente se faz terapeuta, coleguinha, professor… e quando vemos que eles conseguiram superar um desafio qualquer ganhamos o mundo!
Um beijo grande, obrigada pela visita e por sua carinhosa companhia!
Cris e Mi estamos muito faceiros com os seus progressos nas pulseiras e com as suas presenças. Obrigada pelos incentivos e por compartilhar suas vidas conosco. Beijo beijo!
Márcia que bom seu comentário carinhoso! Eu só tenho a agradecer por poder trocar um pouco de tudo isso que é viver o autismo, seus desafios e aquilo de bom que ele traz junto. Um abraço grande!!!
os seus posts sao maravilhosos, nao deixe nunca de escrever…. nós, maes de todo o Brasil nos identificamos, rimos, choramos e aprendemos com vc!
Olha Rosana eu fico de verdade muito comovida em saber que encontro corações abertos ao que eu falo aqui. Um abraço agradecido por sua participação! Mal sabemos quanto as nossas críticas sinceras ou os nossos elogios fazem bem para as outras pessoas. Continue espalhando boas palavras, muito obrigada!!!