Ainda atual
Revisando e republicando um post de quatro anos atrás (08/01/2010)
Férias de filho geralmente significam mamãe tempo integral entrando em cena.
Isso tudo nos faz sair da rotina e é claro que há um preço a ser pago, Milena está mais agitada, mas ainda sim, consigo descansar um pouco pois manter: T.O., Neurocognitivo, Fono, Psicopedagoga, Música, Natação com oito profissionais envolvidos, duas ou três atividades extra escola por dia é desgastante.
Tivemos um período de festas relativamente tranquilo. Pudemos estar com a família, pessoas que amamos e sentimos falta, mas claro, como em toda situação onde muitas pessoas se reúnem, alguns pequenos contratempos me fizeram sofrer e aprender um pouco mais sobre esta condição que é ser mãe de uma criança especial. Cada fase um desafio, quando a Milena ainda era pequenina, seus comportamentos eram sempre justificados, hoje com sete anos e muito alta, não há mais a desculpa: “isso é coisa de criança” ou: “ela é pequeninha”.
Interpretando comportamentos
É sempre muito difícil enquadrar alguém com Autismo em padrões, há um desenvolvimento melhor que a média em algumas áreas, na média ou muito abaixo em outras, por isso, é natural se pensar: mas ela entende tudo o que falamos, como não entende regras tão simples? Será que não é apenas uma forma de manipular???
Esse tipo de incompreensão do que seja de fato o Autismo leva as pessoas a rotularem a criança como mimada, exibicionista ou mal educada. Se uma criança menor, lhe toma os brinquedos ou empurra, por exemplo, ela pode querer imitar e vai fazer isso a qualquer momento e será vista como egoísta e brigona.
Por isso quando estamos em uma reunião de amigos ou familiares, tento me colocar em vigília constante, uma vez que preciso ficar interpretando para o mundo as atitudes e reações de Milena. É desgastante e cansativo, por isso tenho que vencer em mim uma vontade IMENSA de ficar em casa e aproveitar cada oportunidade de convívio social que surge, justamente para que minha filha aprenda (e eu também) e não se isole ainda mais.
As atitudes de uma criança especial só podem ser entendidas quando as pessoas entendem um pouco do seu comprometimento e não dá pra cobrar isso de familiares, amigos ou sociedade em geral. Somos adestrados para o padrão e queremos que ele seja seguido, é natural que seja assim. O que nos resta é dar o exemplo, compreender e nunca cansar de mostrar ao mundo todo que é preciso compreender, que eles são diferentes, mas não são piores (muitas vezes são muito melhores).
Reforço positivo
O duro é que os rótulos começam a surgir em momentos assim, se alguém diz: ela faz isso por querer, ou: ela bate sempre, e a partir daí toda vez que em um grupo de crianças acontecer uma briguinha, vai ficar subentendido que quem bateu foi a criança com autismo. Se o rótulo é exibicionista, toda vez que ela fizer algo, o valor da atitude pode ficar diminuído com um julgamento do tipo: – “ela só está fazendo isso para se mostrar”. Precisamos ser criteriosos ao julgar se uma atitude foi proposital e nos lembrar o quanto ser proposital exige um desenvolvimento de muitas outras competências.
Por isso não devemos chamar a atenção naquele momento de birra, de grito, de copo arremessado. Isso irá reforçar o comportamento negativo, é preciso ignorar a atitude negativa e direcionar para algo mais aceitável, mostrar para a criança como ele deveria ter agido.
O mais difícil deste processo: encontrar o motivo dela ter agido assim, o que ela queria com aquela atitude “inadequada”. Na criança pequena é comum que ela queira chamar a atenção, por isso é preciso ignorar o que ela fez, ensinar como obter atenção. Mas é muito importante lembrar que ignorar a atitude negativa não significa ignorar a criança.
Este é um pressuposto base para a educação de maneira geral, mas insistimos no padrão “não pode”, não faça”, não pegue”, não jogue”. Ao passo que seria simples dizer: “Este pode”, “Faça assim”, “Pegue este aqui”, “Chame por mim assim”, “Não jogamos coisas, vamos jogar bola?”
É claro, eu só penso assim depois do Autismo, sei que não é fácil, mas não posso me calar, pois compartilhar desta experiência pode ajudar outras pessoas. Com o corpo e a alma cansados e por isso com este astral um pouco mais baixo do que o de costume, me despeço pedindo desculpas pela ausência e por este verdadeiro testamento! Para quem teve paciência de chagar até aqui meu agradecimento especial.
Abraços fraternais!
*Nesta época Milena tinha oito anos e estava em uma fase de buscas por formas de interagir