Convívio social e comportamento

Tenho tido poucas oportunidades de vir ao blog, ler e-mail, navegar na net… Férias de filho geralmente significam o desdobramento da mãe… No nosso caso, temos em casa a valiosa contribuição de minha filha, mas ela está na reta final para prestar vestibular, portanto, é a mamãe tempo integral que entra em cena. Tudo isso somado aos cuidados com a casa inviabilizam qualquer outra atividade.

Isso tudo nos faz sair da rotina e até que é bom sair da rotina. É claro que há um preço a ser pago, Milena está mais agitada. Mas ainda sim, consigo descansar um pouco pois manter T.O., Neurocognitivo, Fono, Psicopedagoga, Música, Natação com oito profissionais envolvidos, duas ou três atividades extra escola por dia é desgastante.

Tivemos um período de festas relativamente tranquilo. Pudemos estar com a família, pessoas que amamos e sentimos falta. Mas claro, como em toda situação onde muitas pessoas se reúnem, alguns pequenos contratempos me fizeram sofrer e aprender um pouco mais sobre esta condição que é ser mãe de uma criança especial. Cada fase um problema. Quando a Milena ainda era pequenina, seus comportamentos eram sempre justificados, hoje ela tem sete anos e é muito alta, não há mais a relativização do: “isso é coisa de criança”, ou “ela é pequeninha”.

Minha vigília constante

Na pessoa com Autismo, é muito difícil enquadrar em padrões, há um desenvolvimento melhor que a média em alguns aspectos, na média ou muito abaixo em outros. Por isso, é natural se pensar: mas ela entende tudo, como pode não entender que não pode sair pelada pela casa? Isso é perigoso, pois a criança pode começar a ser rotulada como exibicionista ou mal educada. Se uma criança menor, lhe toma os brinquedos ou empurra, aí fica mais difícil ainda, pois, ela pode querer imitar.

Por isso, quando estamos em uma reunião de amigos ou familiares, tento me colocar em vigília constante, uma vez que preciso ficar interpretando para o mundo as atitudes e reações de Milena. É desgastante e cansativo, por isso tenho que vencer em mim uma vontade IMENSA de ficar em casa a cada oportunidade de convívio social que surge.

As atitudes de uma criança especial só podem ser entendidas quando as pessoas entendem um pouco do seu comprometimento e não dá pra cobrar isso de familiares, amigos ou sociedade em geral. Somos adestrados para o padrão e queremos que ele seja seguido, é natural que seja assim. Se uma criança com Autismo grita, significa que ela quer chamar a atenção? Sim. Ela fez de propósito? NÃO!!!

Regras sociais e rótulos

Vou tentar explicar essa ambiguidade. A criança com Autismo, como qualquer outra, sente necessidade de ser o centro das atenções, ela então, procura formas de fazê-lo. Uma criança de sete anos vai conseguir lançar mão de recursos como entrar na sua frente, repetir muitas vezes a mesma pergunta, puxar o seu braço, falar mais alto…

A criança com Autismo nesta idade pode não ter a capacidade de acessar todo este repertório de possibilidades e age por impulso. Se for gritar ela grita, se for jogar um copo que está na sua mão, ela joga. Não foi capaz de medir as consequências de sua atitude ou perceber que o grito incomoda, que é feio ou que jogar o copo vai quebrá-lo.

Isso se chama: dificuldade em entender regras sociais, um dos critérios diagnósticos para Autismo.

O duro é que os rótulos começam a surgir em momentos assim, se alguém diz: ela faz isso por querer, ou ela bate sempre, toda vez que em um grupo de crianças acontecer uma briguinha, vai ficar subentendido que quem bateu foi…. Se o rótulo é exibicionista, toda vez que ela fizer algo o valor da atitude pode ficar diminuído com um julgamento do tipo: – “ela só está fazendo isso para se mostrar”. Precisamos ser criteriosos ao julgar se uma atitude foi proposital.

Reforço negativo X Reforço Positivo

Por isso, não devemos chamar a atenção naquele momento reforçando o comportamento negativo, mas ignorar a atitude e direcionar para algo aceitável. Como se estivéssemos a dizer isso aqui é adequado. Este é um pressuposto base para a educação de maneira geral, mas insistimos no padrão; Não pode. Não faça. Não pegue. Não jogue. Ao passo que seria simples dizer: ESTE pode, Faça assim, Brinque aqui, Este é de beber e este é para jogar, vamos jogar com este? Que legal, como você joga bem!!!!

É claro, eu só penso assim depois do Autismo, sei que não é fácil, mas não posso me calar, pois compartilhar desta experiência pode ajudar outras pessoas. Com o corpo e a alma cansados e por isso com este astral um pouco mais baixo do que o de costume, me despeço pedindo desculpas pela ausência e por este verdadeiro testamento! Para quem teve paciência de chagar até aqui meu agradecimento especial.

Abraços fraternais!

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