Autismo e comunicação
Da tríade de comprometimentos relacionadas aos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), a comunicação é a área que mais aflige aqueles com quem a criança ou adulto convive, especialmente os pais e cuidadores. A fala pode não se desenvolver nestes indivíduos, (o índice varia entre 35 a 50%) ou ainda pode estar presente, mas cumpre de forma diferente a função da comunicação.
A criança pode apresentar ecolalia, aquela repetição de palavras ou frases ouvidas recentemente ou há muito tempo atrás ou também pode falar coisas que parecem desconectadas do contexto ou mesmo inadequadas para aquele momento. Imagina como é difícil para uma mãe não ouvir seu filho chamar mamãe?
Estimulação precoce
Por muito tempo senti na pele esta dificuldade e, para Milena, o fato de não conseguir se expressar se traduzia em birras, irritação, hiperatividade, gritos… Foi uma fase muito difícil, quando começou a melhorar, foi quando eu estava iniciando o nosso blog. Mas lá no início ainda tem muitos relatos dos apertos que eu passava quando minha pequena ainda não se fazia entender. Hoje revendo os vídeos compreendo o que ela queria dizer, vejo detalhes que na época eu não percebia, dá um aperto no coração…
O triste foi ter perdido tempo de estimulação com uma fonoaudióloga especificamente. Por volta de um ano e quatro meses, se bem me lembro, procurei uma profissional que me disse que não dava para fazer nada antes dos dois anos, pois ela não apresentava atraso visível na fala. Mas ela atrasou e muito, quando voltei na mesma profissional ela insistiu que até os quatro anos eu poderia esperar.
Se ela soubesse um pouquinho sobre Autismo, teria feito um trabalho de estimulação na base do desenvolvimento da linguagem que é a imaginação, o problema foi que ela duvidou do diagnóstico, achou a interação da Milena “boa demais” e nós sofremos um bocado pela falta da terapia.
Mais tarde, a excelente fonoaudióloga Mônica Accioly, fundadora da Mão Amiga, associação de pais do Rio de Janeiro, lamentou o tempo perdido e iniciou o trabalho com minha pequena. A partir daí ela desenvolveu nem tanto a fala em si, mas a comunicação. Ainda que fosse um progresso lento, foi o início do sucesso que é atualmente.
Conquistas na área da Comunicação
Hoje, quando não entendemos o que ela quer dizer, ela busca palavras similares, associa com pessoas, lugares até entendermos o que ela está falando. Outro dia ela queria saber de um “quíte” e como eu não entendi ela falou em seguida: foto (o convite era uma foto), “saro” (aniversário), “pabéns”, festa “íza”(Luiza). É claro que eu entendi na hora.
Outra conquista recente e muito valiosa foi ela começar a nos relatar (do jeito dela) o que aconteceu na escola ou nos lugares em que não estou presente. Nem sempre acontece e raramente responde se eu perguntar, mas ela vai espontaneamente falando, algumas vezes é aquela conversa sozinha, um falatório engraçado que ela arruma, mas quando prestamos atenção revela muito do que ela vivenciou.
Uma fala diferente
É isso pessoal, Milena tem uma fala diferente, fala muitas palavras de forma estranha, tem ainda problemas com pronomes referindo a si mesma como ela, mas o melhor de tudo é que ela se comunica muito bem. Busca compartilhar experiências e demonstra muita curiosidade. Não segue os padrões sociais, por isso começa um diálogo com qualquer desconhecido e não dá andamento a este diálogo conforme se espera. Mas consegue cativar a todos principalmente demonstra interesse pelo outro, muito incomum nas crianças de hoje.
Na convivência com crianças da mesma idade ela até chega muito bem, mas tem dificuldade em permanecer por não conseguir expressar-se com clareza e no tempo certo. Sua lentidão deixa as outras crianças impacientes. Com os adultos é diferente, sempre pergunta coisas como: “sua filha está bem, você está triste, você quer (comer, sentar, ver)” e isso faz com que as pessoas se apaixonem por ela.
Atualmente
O vídeo que postei recentemente faz com que vocês tenham uma ideia de como ela fala atualmente e aqui vai um vídeo do tempo em que eu ainda não entendia bem o que ela queria. Ela tinha quatro anos e estava brava por eu colocar um avental, na época eu não entendi.
Um abraço a todos, no próximo post falo sobre os problemas de comportamento.
Aos que se beneficiam da informação deste blog quero dizer que me sinto honrada em contribuir de alguma forma. Somos nós que temos que agradecer a maravilhosa oportunidade de podermos partilhar.