Autismo e interação social

Adorei os comentários, sempre gosto muito de ler os meus leitores! Ainda que eu não responda a troca acontece, pois envio muita energia boa para aqueles que me emprestam seu tempo para ler e para comentar.

A Milena tem vivido uma fase muito interessante. Ao mesmo tempo em que tudo está mais fácil e aquelas famosas crises de birra com grito e choro são cada vez mais raras, ela tem apresentado características muito mais claras do Autismo, como a fixação por objetos, os comportamentos repetitivos e a inadequação social.

Lembra aquela história que tantas vezes comentei nestes quatro anos, das dificuldades de caracterização daquelas pessoas que apresentam os graus mais leves do espectro do Autismo? Senti na pele, muitas vezes, o julgamento maldoso de pessoas e profissionais, que duvidavam da minha palavra quando eu afirmava que Milena tem autismo. O fato de ela ter uma interação social com adultos, tão boa, realmente conduz a uma confusão principalmente porque esbarra na montanha de mitos que cercam o Autismo.

EspectroAutismo

Áreas de desenvolvimento

Distúrbio não é ausência, dificuldade não é impossibilidade e desta forma percebemos que Milena tem desvios inquestionáveis nas três áreas do desenvolvimento comprometidas no Autismo: interação social, comportamento, comunicação. Estes desvios embora não sejam limitantes para ela, são dificuldades claras principalmente, quando consideramos as crianças típicas que triangulotriade2tem a mesma idade.

O comprometimento da interação social fica evidente quando ela não consegue interagir com as coleguinhas. A não ser que elas “compensem” as suas dificuldades. Ela não dá as respostas esperadas para uma criança de sete anos, não consegue responder ao jogo interativo. Quando precisa dar respostas rápidas, se posicionar na brincadeira, ela simplesmente não sabe o que fazer e a outra criança perde a paciência.

Quando estão só ela e a outra criança duas coisas podem acontecer, a criança conduzir dizendo agora você faz assim Milena, senta aqui, pega este brinquedo, coloca aqui e desta forma a brincadeira é dirigida pela parceira de forma paciente. Mas pode ser também que a criança não tenha muita habilidade para dirigir a brincadeira e suprir o espaço que Milena deixa com a sua não prontidão. Neste caso, se tiver algo mais interessante por perto, como um computador ou programa na televisão, Milena é abandonada pela parceira.

Tolerância e Paciência

Geralmente, se existe outra criança por perto, as duas se juntam e Milena acaba sobrando um pouco, mesmo que seja uma coleguinha mais sensível que tente incluir minha filha uma vez ou outra. Ela fica muito mais gravitando ali em volta, do que interagindo como, eu sei, é a sua vontade.

É claro que eu fico muito chateada quando assisto cenas assim. Três crianças até hoje, marcaram a nossa vida pela paciência e prontidão para brincar com a Milena e mesmo elas, se dão melhor quando estão brincando sozinhas sem uma terceira criança, pois assim dirigem o foco de atenção para a Mi. A grande maioria das crianças brinca ao lado, junto, com apenas um ou outro momento de interação, não são melhores nem piores, apenas não tem em sua personalidade a tolerância, a paciência.

Nós adultos também somos pouco tolerantes e gostamos muito mais de impor o nosso ritmo do que respeitar e acompanhar o ritmo do outro. Apenas usamos o verniz social e encobrimos estas diferenças de forma diferente da criança que até certa idade, age de forma mais espontânea.

Interação Social

No quesito Interação Social, Milena tem apresentado comportamento muito peculiar. Se aproxima de todo mundo, conhecido ou não, e dispara suas perguntas: “Como ‘cê’ chama?, que ‘cê’ veio fazer aqui?, onde mora, quem é ele, onde está seu pai, seu pai chama, porque seu papai tá aqui com você, porque você está sem roupa (para homens sem camisa), porque você colocou isto na cabeça”…

Para as crianças, ela começa com um “posso brincar com você”, mas em vez de participar da brincadeira fica fazendo perguntas, pede para pegar o que não deve e acaba gerando uma estranheza em quem não a conhece.

É muito, mas muito ingênua. Quando brinca com pequenos, eles tomam tudo dela, e raramente ela reage, os maiores fazem piadinhas com o seu jeito de ser e ela ainda ri. A estereotipia que faz quando está empolgada a isola ainda mais.

???????????????????????????????Fico triste quando vejo que ela acaba sobrando, quando percebo que ela quer ir, quer ficar junto, mas não consegue. Meu coração se aperta e talvez por isso eu a mimo tanto. Sou mesmo muito paciente e carinhosa com minha filha. Sou uma boa mãe, aquela que gostaria de ter sido com meus outros filhos. Perco a calma, sim. Tenho muita ajuda, sim. Mas também me faço mil para tentar compensar a atenção e a partilha que Milena não recebe do “mundo” embora guarde a certeza de que não vou conseguir.

No próximo post vou discorrer um pouco sobre a dificuldade de comunicação da nossa garotinha na fase atual de sua vida. Até lá que vocês tenham dias luminosos e que a paz de espírito seja uma constante em nossas vidas.

Obrigada pela visita 🙂

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Leila
Leila
5 anos atrás

Olá, tenho uma filha com autismo de alto funcionamento que descobrimos há pouco tempo. Ela tem 17 anos e o que vc descreve é o que vejo com a minha, mas ela não se vê assim e acha que tem muitos amigos. Isso me deixa preocupada pq parece que ficará mais difícil o tratamento.