A importância da socialização
Eu fico mais encantada com a Milena a cada dia que passa. Outro dia demos carona para uma colega da academia onde ela faz natação. Como era a primeira vez que vi aquela senhora, não guardei muito bem a sua fisionomia e na saída, no meio de umas quinze mulheres, não poderia reconhecê-la. Milena se aproximou dela e perguntou “Você vai embora com a Milena de novo?” A senhora agradeceu muito, pois realmente estava aflita para chegar em casa logo.
E minha filha é assim, se lembra de detalhes, de fatos, de pessoas que normalmente uma criança não se lembraria. Vez ou outra ela do nada me pede: “Vamos viajar mamãe, estou com saudade do Rio?” Ela diz isso do seu jeito, claro, no seu “milenêz”, mas a entonação não deixa dúvidas do quanto ela realmente está sentindo falta principalmente da praia (não é só ela).
Invista na socialização
É interessante que ela desenvolveu tanto esta sensibilidade pelo constante investimento que fizemos em sua socialização. Desde bebê frequenta a escola, sempre no foco da socialização. Se eu fosse exigir qualidade de atendimento, se tivesse tido pena da minha filha, pelo despreparo em lidar com as diferenças, eu teria provavelmente mantido-a em casa comigo, sob minha proteção, e ela não seria quem é hoje.
Tenho pelo menos quatro exemplos de pais que fizeram isso, só aqui no meu círculo de relacionamentos. Não os julgo, por favor não entendam isso. Cada caso é diferente, cada realidade é única e as pessoas dão aquilo que podem dar no momento. Por isso, não me interessa discutir o que é certo ou errado, pois para mim estes são conceitos muito relativos, tanto quanto o conceito normalidade que eu pro sinal, detesto.
O que quero enfatizar é que minha filha ganhou muito com o fato de conviver com outras pessoas, com o fato de eu chamar a sua atenção constantemente para o outro, para que ela olhasse à sua volta, para que ela enxergasse o mundo. Nisso eu acertei.
Estímulos e limites
Milena hoje tem essa capacidade de perceber coisas que a pessoa com Autismo tem dificuldade de perceber. Ela consegue expressar sentimentos e se fazer entender, apesar da dificuldade de linguagem, coisa que também os Transtornos do Espectro do Autismo dificultam.
Não posso dizer que ela faz isso tão naturalmente quanto alguém com desenvolvimento típico. Mas, por outro lado, tem muita gente por aí, muita criança que é capaz e não faz. Ou seja, tem os “instrumentos” para perceber e não fazem porque são muito egoístas. Quantas crianças cheias de fricotes e manhas (claro, que conduzidas pela educação que recebem) que maltrata a outra criança, que ofende a adultos, responde mal aos pais e age assim intencionalmente?
Concluindo, na medida do seu possível, dada sua personalidade aliada a todo o estímulo recebido, minha filha, apesar de autista, pensa muito no outro.
Quando ela está errada
Como explicar então que ela nos seus rompantes pode puxar o cabelo da colega de sala? Pode dar um tapa no pai, na mãe, em quem for quando é contrariada?
Já falei sobre isso aqui no blog, ela sabe que está errado, mas não age intencionalmente. Tanto que pede desculpas e fica em um estado de agitação muito maior por não saber lidar com a culpa que sente.
Por ser tão controverso é que o autismo se torna tão desafiador. Tenho tentado explicar isso para algumas famílias que o Instituto apoia, mas não tem sido fácil. Cobram de seus autistas a atitude coerente com o seu potencial e não entendem que se eles conseguissem agir de forma coerente não seriam autistas.
Bjim procês!!!