Olhar

olhar2Coisa difícil de explicar… o olhar de uma pessoa com Autismo.

Temos uma grande dificuldade para tirarmos uma boa foto da nossa Milena, dizemos para ela: olha aqui. Ela posiciona a cabeça, mas não olha diretamente, olha para a direção que estamos.

É necessário chamarmos a atenção com alguma frase tipo “Depois nós vamos para o clube?” (detalhe: se falamos algo assim teremos que cumprir, sempre que prometemos algo, temos que cumprir). É difícil conseguirmos este olhar da foto ao lado.

O olhar difuso

Este olhar difuso das fotos abaixo foi a primeira coisa que fez acender a luz de alerta quando ela ainda tinha três para quatro meses de idade. Quando bebê era muito mais constante perceber este olhar perdido. Ela ficava olhando para a mãozinha, para meu cabelo, ou minha sobrancelha. Ela olhava fixamente para nossa mão, aí substituíamos a mão pelo rosto e ela desviava o olhar.

Certa vez li que os rostos tem informações sensoriais demais para a pessoa com Autismo.

olharperdido

Um olhar diferente

Porém, não é sempre que isso acontece e nem toda pessoa com Autismo desvia o olhar. É possível que te encare e olhe dentro dos seus olhos sem problemas. Mas ainda assim é um olhar diferente.

Aquele tipo de olhar em que somos capazes de compartilhar impressões, eles não tem. Se estamos em uma fila com desconhecidos, alguém chega e pergunta algo estúpido como “Será que eu posso passar na frente?” a gente sem dizer nada olha para a pessoa do lado e dividimos com ela a nossa crítica sem abrirmos a boca. Ou olhar que significa que um namoro vai começar… São olhares de partilha, de comunicação. Esse olhar eu ainda não vi em alguém que tem Autismo.

Olhares

Foco desviado

É comum ouvirmos ou dizermos a alguém “Em que mundo você está? Está com um olhar perdido…” Este olhar perdido ou olhar indefinido é muito presente em minha filha.

Acho que nem todo mundo percebe, pois não temos o hábito de prestar atenção no outro, mas ao longo do tempo em que estamos juntos, muitas fotos que tiramos flagramos este olhar. Quando queríamos fazê-la prestar atenção em alguma coisa, era pior. Aviões, nuvens, carros passando ao longe. Só atualmente conseguimos esta façanha, mesmo chegando o objeto pertinho dela, o foco era desviado.

Hoje em dia, quando encontro alguém que tem Autismo, consigo perceber antes de me contarem. Este olhar diferente, esta coisa de “estou aqui em algum lugar e não compartilho com você”, a meu ver, é a principal característica do Autismo. Entretanto, temos que ter olhos de ver, ou seja, é necessária certa sensibilidade para perceber esta marca tão sutil.

A interação social a partir do olhar

Como disse aqui, já estive em médicos famosos e competentes que me disseram que Milena não tinha Autismo, pois ela interagia muito bem. Eu, se pudesse, mudaria este conceito da interação ou enfatizaria ainda mais esta interação com seus pares de idade.

Muita gente baseia a boa interação com adultos para dizer que uma criança não tem autismo. O adulto acaba compensando os aspectos deficitários, as falhas de interação que a criança com Autismo tem. O importante é vê-la na interação com crianças de sua faixa etária. Pois até crianças maiores tendem a suprir a carência, a tomar conta e direcionar o menor e fica mais fácil para quem tem Autismo.

Avaliar interação social é avaliar em situações naturais em que uma criança puxa a outra para brincar e juntas vão construir um mundo imaginário, ou compartilhar um brinquedo.

Nenhum extremo nem outro

Lembrando que retraimento demais é ruim, expansividade demais também. A pessoa com Autismo que tem uma interação olhar1inapropriada, irregular, significa que ela pode “grudar” em você de forma inapropriada, como faz a Milena em muitas situações. Interage muito, mas com adulto e sem entender a tal regulação social, o que é apropriado ou não.

Por enquanto, ela é criança, tudo se justifica. Daqui a pouco, fica mais difícil justificar, por exemplo, uma mocinha pegando o cabelo de um desconhecido.

Falar disso quando se aproxima o Dia Internacional do Autismo, época de divulgação desta complexa e instigante síndrome é muito pertinente, espero contribuir para pensarmos mais a respeito destes mitos do autismo. Semana que vem, falo mais sobre como a Milena está.

“Um beijo e um queijo” 🙂

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