13 anos,  Maternidade,  Reflexões

A arte de ouvir e algo mais que precisamos aprender sobre empatia

Você é uma pessoa que tem um bom nível de empatia?

Se você respondeu prontamente a esta pergunta, você precisa repensar os seus conceitos… Eu também antes do autismo, pensava em empatia de uma maneira bem simplista, mas percebi que saber mais a respeito dessa característica seria fundamental para entender melhor minha filha, foi quando comecei a estudar mais sobre o assunto e percebi o quanto eu tinha que aprender.

Para saber se você realmente sabe se colocar no lugar do outro, ou seja, se você é uma pessoa com empatia, você vai precisar perguntar a quem convive com você, pois ter ou não ter empatia não é definitivamente, algo que você mesmo pode concluir. Embora todo mundo tenha empatia, ela pode variar muito em nível, em frequência e algumas pessoas podem experimenta-la apenas raramente. Acho que já deu para perceber que este é um tema complexo e que requer nosso cuidadoso olhar.

Este tema é também uma das grandes confusões do autismo e gerador de mitos. Quando dizem por aí que a pessoa com autismo não tem empatia eu sorrio com paciência, pois eu já sei que quem está dizendo pode até saber muita coisa sobre autismo, mas está apenas seguindo o senso comum no que diz respeito à empatia, assim como a maioria de nós.01aUma das terapias mais conhecidas e indicadas para pessoas com autismo, aliás mais de uma delas, tem um tronco teórico que gosto muito e que dá ênfase ao brincar. Como pedagoga, como psicopedagoga e como mãe, posso dizer da importância do brincar na infância. A brincadeira constrói conceitos, afirma atitudes, ajuda a formar o adulto que vai surgir. É brincando que a gente experimenta papéis e mais que isso, na brincadeira nós imaginamos.

Seria preciso muito texto para expressar o valor da imaginação no desenvolvimento infantil, mas só para você ter uma ideia, uma das bases da comunicação é a imaginação.

Rapidinho: eu te digo a palavra casa (ou escrevo aqui) e dentro da sua cabeça veio uma imagem, a palavra casa é apenas um símbolo, as letras juntas por si só não significam nada, elas só têm algum sentido quando se juntam com a sua imagem mental, e você aprendeu e treinou isso lá na sua infância.

No berço o bebê sente fome, é desconfortável e então ele chora, a mãe vem e sacia a fome dele: conforto. Aos poucos ele começa a associar a imagem da mãe a bem-estar e sempre que ele chora ela vem, está formado o primeiro patamar da comunicação que vai se ampliar quase ao infinito transformando em voz, o que está lá no mundo mental.

Como a brincadeira é centrada na imaginação ela vai formar todos estes símbolos e vai criar base para habilidades que serão fundamentais para a vida. A criança com autismo tem dificuldade em brincar imaginando (ter dificuldade não significa não ser capaz), não é coincidência que tem também dificuldade em imaginar. O trabalho do fonoaudiólogo será centrado em brincadeiras, claro!

Pois bem, o que isso tudo tem a ver com empatia?

Como eu ia dizendo, o tronco teórico de abordagens como Sonrise, Floortime, Play Project entre outros, é a empatia… ops… a brincadeira. E na grande maioria das vezes ou será necessário um profissional, ou um treinamento para os pais. E por que? O que eles vão ensinar? Eles vão ensinar a brincar com empatia.

Na brincadeira destas abordagens, você não direciona de acordo com o que você quer, você não dá as cartas, você não manda, você não faz terapia com a criança, pois você não está ali para ensinar, você está ali para brincar. A brincadeira vai ser direcionada pela criança e você vai fazer o que a criança quer que você faça. Como você vai saber? Você tem que usar empatia.

05e

Nos muitos atendimentos que fiz e faço a famílias que receberam o diagnóstico, eu tenho um pagamento que ninguém pode imaginar o valor: a gratidão. Escuto coisas como: “a conversa que tivemos valeu mais do que todos os médicos caríssimos que procurei”. “Conversar com você me trouxe alívio, me trouxe diretriz, me trouxe meu filho de volta”.

Você deve estar pensando:  Pôxa Cris, você é boa mesmo né? Bom, sabe o que eu faço de verdade? Eu escuto…. Como eu já passei pela situação difícil do diagnóstico eu faço algumas pontuações, validando a dor daquela mãe, daquele pai, validando a angustia e assim alivio a culpa. Só isso… eu escuto e trato de não ditar verdades nem listar meus “sábios conselhos”… Alguns chegam querendo a confirmação do diagnóstico, alguns querendo descarregar a raiva e eu escuto, acolho e tento no máximo possível, me colocar em seus lugares e sentir não o que eu sentiria, mas imaginar o que é ser eles, e tentar sentir o que eles sentem. O que traz a empatia neste caso, é muito mais o fato de que eu já passei por isso e me lembro o que nós precisamos geralmente ouvir.

Você é empata Cristina? Provavelmente não… porque nem sempre eu consigo deixar de ser eu. E quando os pais estão no momento de negação, eu não consigo me ligar a eles. Conseguiria se tivesse mesmo um bom nível de empatia.

Você não tem empatia com quem perdeu tudo o que tinha em um incêndio, se você nunca passou por isso. Você vai imaginar, mas aquela experiência não vai ter eco dentro de você. Você pode aproximar com algo que já viveu e superou, mas é muito comum que as pessoas que perderam tudo, escutem dos outros comentários inapropriados, vazios de sentimento, acompanhados de batidas no ombro: “você vai superar”. Não consola, não acrescenta, pois são palavras vazias de empatia, talvez mais valesse um olho no olho com um sincero: “eu sinto muito pelo que você está passando” ou então: “eu não sei o que dizer”.

Por isto minha gente, pense a respeito de empatia. Ela vai ser muito útil para você. Quando disserem por aí que autista não tem empatia, pode dar o seu sorriso interno e se lembrar que quase ninguém tem e isso nunca vai ser exclusividade do autismo.

E por último: ter empatia não é ter dó. Por favor!!!

Fonte SlideShare em: http://www.medium.com/@empatia

“Na escola meu filho viu a amiga cair do balanço e ficou lá gritando sem deixar ninguém se aproximar dela”. Talvez isso seja muito mais próximo de empatia, pois seu filho gosta de ficar sozinho quando está triste e queria que a amiga ficasse sozinha pois tinha se machucado, neste segundo exemplo ele se colocou mais no lugar da outra criança.

E seria empatia total se ele tivesse chegado na amiga e perguntado: “o que você precisa?”, ” quem você quer que eu chame?“, “o que você quer que eu faça para te ajudar?” Essa frase resume o que significa empatia e aí autista ou não, quem assume essa postura, pode levar para casa o troféu da empatia.

“Faça aos outros o que você gostaria que fosse feito a você”, diz o conceito bíblico e nós ainda estamos tentando aprender!!! A empatia real seria um ousado upgrade deste conceito: “faça aos outros o que os outros gostariam que você fizesse por eles”. E pode não parecer, mas é muito difícil.

Maridos não entendem esposas, mulheres não entendem os homens… a quanto tempo ouvimos isso? Falta de empatia… não consigo pensar como homem e quero que meu marido atenda à minha necessidade de carinho e atenção, necessidade que ele tem em um grau muito menor e baseado nisso ele me dá o pouco achando que é suficiente. Empatia ou a falta dela, significa sucesso ou fracasso de relações.

Mas agora o ponto mais importante deste post: Deixe seu filho te ensinar como você pode ajuda-lo. É ele que vai te dizer o que ele precisa, não é você que determina isso. Ele não vai dizer pedindo, nem falando, provavelmente ele vai te dizer muito mais com o jeito que ele reage, que ele se comporta. Só lendo comportamento, você vai aprender o que ele gosta ou não gosta, o que ele precisa quando está triste e entender o que ele fala sem palavras.

Isso não te impede de ensinar, porque ensinar não é impor, ensinar é vivenciar junto.

Brinque com sua criança ou jovem com autismo. Apenas brinque. Passe tempo com ele ou ela, neste tempo seja só ouvidos, só escuta, só observação. Aos poucos estabeleça trocas para tornar ainda mais rica a brincadeira, proponha o que você vê que ele está pronto a receber, mas não está conseguindo criar por si mesmo, apenas proponha e espere. Mais do que escutar um profissional te dizer o que seu filho precisa, ouça você e seu coração.

04d
mundodami.com

 Não tenho empatia suficiente para saber se você está cansado com o tamanho deste texto, por isso te peço desculpas por me alongar tanto, espero que você tenha empatia e perceba que eu não consigo ser objetiva, mas acima de tudo entenda que meu desejo de compartilhar é imenso e talvez por isso eu peque com o excesso de palavras.

Agradeço a sua parceria.

Beijos!

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Quero que você saiba que não tenho a pretensão de apontar nenhum caminho nem ensinar nada. Tudo o que está escrito aqui tem a minha versão pessoal, baseada na minha própria vivência e que tem funcionado para mim e para minha filha.

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Leila Bezerra
Leila Bezerra
8 anos atrás

Oi Cris, como sempre tocando fundo… Obrigada por colocar aqui o que por muitas vezes não sabemos expressar!!!
Beijos ❤️

luzinete
luzinete
8 anos atrás

Olá!
Sou uma vovó chegando neste mundo azul… descobri tem pouco tempo apesar de já desconfiar a tempos.
Enho lido artigos, assistido vídeos e agora que consegui entrar em comunidades e me sentindo compreendida nos meus sentimentos de “vó superprotetora”, vó que faz qualquercoisa pelo seu netinho de apenas 3 aninhos.
Obrigada pela matéria… e penso que se as pessoas não tem paciência para ler é porque não estão interessadas verdadeiramente em ajudar seu anjo azul!

luzinete
luzinete
8 anos atrás
Reply to  luzinete

Desculpem as palavras coladas… meu teclado tem vontade própria e não sei como editar!
Bjs

Vania Reis
Vania Reis
8 anos atrás

Lindo, perfeito e sem excessos Cris. Me fez repensar a minha definicao de empatia. Amei!!! E a ideia do audio: show, da ainda mais emocao ao texto❤️❤️

Valcinha
Valcinha
8 anos atrás

Adorei! Sábias palavras, acho que aprendi um pouco como ter empatia. Obrigada.

Roseane Souza
Roseane Souza
5 anos atrás

Meu Deus como to feliz em achar em blog. Obrigada por me ajudar a entender o autismo do meu filho. Roseane Maceio al