A se revelar
A possibilidade estava ali o tempo todo. Escondida atrás de um olhar vago e um leve agitar das mãos. Mas era, talvez, mais fácil ver o que faltava e obedecer às demandas do mercado de produção em que se transformou a educação. Mesmo diante de toda a estimulação e o incontável número de horas de terapia, minha menina mostrava a que veio e nunca agia só para agradar. Sua autenticidade era marcante demais para se conformar.
Aprendia do seu jeito, usava quando precisava, estabelecia seu tempo.
Leia, conte, ordene, escreva. A cada objetivo não alcançado, o futuro escurecia. O coração pesava e a busca seguia aumentando a culpa de ter feito as escolhas erradas.
Até hoje não lê, mas acha sozinha o tutorial de “como fazer sorvete em casa” em 20 segundos. Se importa com o que sentimos, é gentil.
Não conta, mas olha para o objeto mais desejado na loja e quando ouve o preço afirma de forma espontânea: “muito caro, não precisa comprar, não”. Até a mãe consumista se espanta.
Ainda assim, havia um currículo a seguir. Testes padronizados para caber dentro e a angústia de não atender às comparações continuavam a pesar.
Aquela tal da inclusão
Um dia a vida nos trouxe ao lugar onde a diferença é aceita como condição humana, um lugar em que imprime na bandeira:
“Um ambiente atencioso, onde respeitamos e valorizamos as crianças por quem elas são, ajudando-as a entender o mundo ao seu redor e ensinando-as a gerenciar seus comportamentos autistas”. Palavras talhadas na ação diária.
Foi quando o que estava escondido apareceu e o “deixa que eu faço”, “não preciso de ajuda”, “me deixa fazer do meu jeito”, ou melhor, “deixa ‘ela‘ fazer do jeito ‘dela'”, se tornaram as frases mais ouvidas. Ela cresceu em confiança, gostou de se sentir capaz.
Quanto tempo vamos olhar para o que falta? Quanto ainda vamos comparar? Nesta escola aprendemos que quem não aprende a amarrar os sapatos usa sapato de velcro e quem não tolera barulhos altos usa fones de ouvido. Tudo é oferecido e nada é imposto, todo mundo aprende, mas cada qual do seu jeito.
Quem determina onde você pode chegar? A minha confiança ou o meu preconceito? Parece fácil, mas romper com a expectativa de enquadrar o filho no padrão não é simples, não. Nós fomos moldados e ainda somos. Moldar é quase a nossa natureza. Aceitar é estrada nova, o único caminho para uma sociedade melhor.
Por isso, quando vejo um jovem se balançando no palco em que todos cantam e. mesmo se balançando. ele espera a sua vez e no tempo exato toca a percussão encerrando a apresentação, imagino quantos na plateia só viram o balançar, e quantos saborearam aquele feito monumental.
Fim do ano letivo
Hoje, o ano letivo se encerra por aqui. As lições que ficam não se encerram nunca, seguem tatuadas na alma.
Que eu aprenda a não duvidar de fato e transformar o que eu quero para você naquilo que você pode conquistar. E que eu nunca mais duvide do quanto você é capaz.
Seguem as fotos. Férias de verão por aqui, vamos ver a família e os amigos e voltamos em setembro para o início de mais um ano, obrigada pelo imenso carinho!
Cris, é muito bom ler seus textos. Para mim é sempre reconfortante. Ainda estou aguardando o diagnóstico.
E vc como sempre, dando um show de amor!
Amei demais esse texto! Obrigada por partilhar as lindas experiências de vcs!
Que lindo Fausta!!!! Me emocionei de ver as fotos e dos seu texto tbem!!! Que linda a Milena gente!!!! Difícil mesmo, vivemos em comparação constante, mas sempre consegimos ver o que nossos pequenos, que já não são pequenos mais kkkkkk, são capazes e nos alegramos com isso! Me espelho muito em vc, te acho uma mãe sensacional e suas palavras nunca sairam do meu coração, sempre ajudam quando me desespero. Boas férias pra vcs e bom descanso!!!! Grande abraço!
Milena tá ficando com cara de mulherão rsrs. Cada dia mais linda. ❤ Realmente insistimos em comparar, em nos ater ao que falta…É um erro, mas na maioria das vezes fazemos. Atualmente a Piettra estuda em uma escola regular, pública. Sempre resisti em colocá-la numa escola especializada, achava que de alguma forma ela poderia regredir; só este ano consegui mudar este pensamento quando me dei conta do quanto ela estava se sentindo incapaz, do quanto estava estagnada, sem ter a chance de alguém que olhasse para ela e enxergasse que embora também não leia, ela tem inúmeras outras habilidades que… Leia mais »
Lindo e sensível como todos os seus textos! Aproveitem as férias! Beijos. Bianca Vale Cunha
É com uma escola como esta que sonho para o meu neto.Uma escola que o prepare para a vida,que o faça sentir o significado do ” EU POSSO,EU CONSIGO”,para que um dia quando eu não fizer mais parte deste mundo ele já tenha tido a oportunidade de revelar suas aptidões e viver melhor no nosso mundo.Bjs e mais e mais vitórias para sua filhota.
Parabéns Fausta…pra vc e para a Milena!!!!Sempre terei vocês em meu coração…há dois anos estava desesperada , te mandei um e-mail e você me respondeu com atenção e carinho.Meu Heitor está cada vez melhor.Com as intervenções as limitações diminuem cada vez mais…aos 6 anos já lê e escreve!!! (Olha a mãe coruja) mas na verdade quem mudou foi eu com esse presente que a vida me deu!O escolheria novamente quantas vezes fosse preciso como meu filho!Toda sorte do mundo pra vcs!!!Pessoas especiais!!!!
Olá queridas… Que lindas fotos, me passam o sentimento de superação e que a vida sempre nos surpreende.Quero aqui também te agradecer ,pois há dois anos atrás te mandei um e-mail desesperada com a situação do meu filho e vc dai…de tão longe, me “pegou no colo” , me acolheu e me orientou. Hj ele está bem…cada dia melhor: aos 6 anos já está alfabetizado(olha a mãe babona).Hj não me importo se é Asperger ou 84.9…o que me importa realmente é o meu filho…o HEITOR …por inteiro.Sou mãe e ele é o meu filho!!! NA verdade, quem mudou mais foi… Leia mais »