Uma volta na curva do tempo
Por dois anos estive longe deste cantinho que um dia um desenho animado me inspirou a criar. “O fantástico mundo de Bob” que eu assistia para ter algum repertório infantil e entrar no mundo da filha que ia nascer.
Antes do primeiro semestre da vida dela percebi que nada que eu li ou assisti ou experimentei até aquele momento tinha me preparado para aquele mundo que se apresentava.
A parte mais difícil foi justamente entender que cada pessoa viva tem seu mundo particular, embora isso, não existe ninguém vivendo em um mundo à parte. É claro, toda individualidade é intocável. Somos iguais em muitas coisas, não é?
Família, cultura, nossos grupos, trazem este chão onde nos comparamos (muitas vezes buscando nos equiparar), mas em essência somos únicos e somos mais diferentes que iguais.
O curso natural das coisas dita as nossas diferenças que é justamente, o que nos coloca em terreno comum. Mas a mãe que eu era não sabia disso e ouvir que minha filha não era normal tornou muito assustador o início da jornada. Quanta beleza deixei de ver enquanto eu corria contra o tempo para alcançar o ilusório normal.
Mas antes de seguir com isso, quero concluir sobre a minha ausência. Na nova realidade das mídias sociais nossa forma de compartilhar foi mudando e me vi conseguindo mais interação no Instagram.
Mesmo entendendo o meu protagonismo de formiga no universo do autismo, eu quis manter o blog. É aqui que eu posso apenas escrever sem nenhum apego a likes. Aqui me sinto mais livre, me expresso melhor e é libertador poder escrever sem limite de texto.
Foi assim que comecei este blog, querendo tocar não centenas, mas um coração. Neste espaço sagrado da empatia que tão poucos entendem de fato o que seja, sigo tentando acolher sem julgar, oferecer escuta não conselhos, trocar vivências imperfeitas e quem sabe, inspirar.
Milena
E agora voltando a falar de tempo, Milena completou 22 anos este mês e como sempre visitei a mim mesma numa curva do tempo e me revi recebendo o diagnostico já no primeiro ano de vida da Mi. Nem sempre é um encontro fácil, mas tem sido ano a ano mais maduro e mais consciente.
Milena está bem, como você pode ver se quiser no Instagram, página que atualmente é mais dela que minha :-] Continua linda, suspeitamente falando, e mesmo ainda longe de ser adulta ela é dona de uma sabedoria que poucas vezes encontro nos neurotípicos. Ela segue se desenvolvendo, lição aprendida. Desenvolvimento humano não tem tempo para parar de acontecer e a cada dia nos surpreende.
Jornada compartilhada
Se você chegou aqui por ser mãe, pai, familiar de um autista eu te recebo de braços abertos e te digo com toda certeza: ninguém será capaz de te guiar (se é que você já não percebeu isso), essa é a sua jornada, tão sua que chega a parecer solitária, mas nunca há de te faltar companhia. E saiba que a pessoa que trouxe o autismo para a sua vida, ela sim será quem te guia e é dessa pessoa que você deve (acredite!) buscar aprender e ouvir.
Há 22 anos embarquei em uma jornada que me ensinou mais sobre amor e aceitação do que eu jamais poderia imaginar, espero que você também, do seu jeito, no seu tempo, aprenda suas próprias lições. Que a gente possa se ver ao longo de algum trecho e você possa me ouvir ou ouvir outras vozes te dizendo: eu te vejo e você não está só.
Espero voltar em breve e compartilhar um pouco mais.