Menina com uniforme da escola, sentada ao chão, com as mãos nos ouvidos.

As reuniões de família e a criança com Autismo

Para quem tem um filho com Autismo as festas de final de ano trazem a certeza da vivência de emoções intensas. Este universo do Autismo, que se abre assim que recebemos o tal laudo, também traz uma outra dimensão de preocupações, como a reação da nossa família quanto aos comportamentos diferentes de nossos filhos.

Você fica sem dormir, você lida com as birras, conversa com os médicos, pesquisa até tarde da noite, faz esquemas visuais, ensina, põe de castigo, repete um milhão de vezes, corrige um milhão de vezes, lida com os desafios da escola e das terapias, do remédio ou da dieta e também brinca, dá carinho, cuida… Tudo na tentativa de ser a mãe que a criança precisa. Tudo isso acontece em um mesmo dia, que vai se repetir durante todo o calendário.

Talvez por isso nossa emoção fique tão à flor da pele. Talvez por isso a gente reaja de forma tão intensa às críticas e peça um único presente sem pacote: um pouco de respeito à condição de nosso filho, um pouco de respeito a nós.

Pessoas e reações diferentes

Natal, Ano Novo…. Se tem um momento propício para os problemas acontecerem, esse é o momento. Saída da rotina aliada a um monte de cores, luzes, cheiros, gente e barulho.

A ansiedade que pode ser tirada de letra por alguns, pode representar para outros o estopim de uma bomba prestes a explodir. Uma reunião de família também pode ter duplo sentido: pode significar a recarga das baterias para alguns e uma fonte de conflitos para outros. Reações diferentes para gente que tem equipamentos internos diferentes. Mesmo diferentes os tais dispositivos internos como a flexibilidade mental, o filtro social, nos capacita a lidar com as reações do outro, como os comentários indelicados e com tudo que vem junto quando gente se reúne.

Mas não podemos negar que mesmo quem nasceu dotado de paciência e compreensão em dose extra, ou quem tem o tal “eu sou normal” na etiqueta, acha difícil determinados momentos sociais. Imagina então quem tem uma ‘deficiência’ destes tais ‘equipamentos’ de ajuste? É por isso que me pergunto: é justo exigir o tal bom comportamento? Rotular como falta de educação, não seria julgar indevidamente?

Menos julgamentos e mais compreensão

Uma criança com Autismo expressa suas dificuldades no comportamento, por isso ela vai exigir da família tanto compreensão, quanto aceitação. Talvez seja por isso que o pós-Natal, faz minha caixa de e-mail se encher de lágrimas e desabafos, relatos tristes de desrespeito transformados em dor e uma dor que fica maior justamente por vir de quem supostamente deveria apoiar.

Se você tem na família alguém com Autismo, por favor, pare de julgar e se informe mais. Pare de achar que seu parente precisa ser mais rigoroso, e que o problema é só falta de educação, pare por favor de culpar sem medidas. Olhe à sua volta e veja que todas as pessoas apresentam comportamentos inadequados vez ou outra e que muitas crianças apenas sabem a hora certa de fazer suas artes… A gente é assim e é natural que seja, mas o filtro social é algo que falta para alguém com Autismo que age de forma impulsiva e que, na maioria das vezes, se você olhar com carinho, você também vai ver a beleza que vem de ser verdadeiro e não usar máscaras.

Chega de frases como “toda criança é assim” (só depende de você educar melhor) ou “ele não parece autista” (entende muito bem o que não deve fazer). Sério, isso não ajuda em nada e só mostra que você não sabe nada sobre Autismo.

Respeito às diferenças na família

Leia e se informe, por favor. Não tente encontrar regra única e nem tente aplicar o sucesso de Einstein a seu sobrinho. Autismo não é assim. Pelo contrário, a informação vai te mostrar o quanto são diferentes todos os autistas e que ainda assim é possível e prazeroso conviver e aprender com essas diferenças. Você vai ajudar muito se informando um pouco.

E não, você não está sendo bonzinho em aceitar. Você não está fazendo um favor. Nessa relação quem ganha é você ao aprender que o mundo é feito justamente disso: diferenças. Que combinadas constroem a nossa história.

Nas festas de final de ano, ou no próximo churrasco com a família, pense a respeito. Você pode ajudar a fazer deste momento uma memória feliz. Todo mundo ganha quando você se livra do peso do julgamento e abre seu coração para ver além das aparências. Não vai ser nem um pouco estranho se ao final deste dia você constatar que a única deficiência que existe, de fato, é a normalidade.

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Marialice de Castro Vatavuk
Marialice de Castro Vatavuk
6 anos atrás

O que é motivo de alegria para muitos, pode ser de muita tensão para uma pessoa com autismo. Entretanto, se observarmos mais de perto vamos perceber a excitação, a ansiedades e o descontrole e os nervos a flor da pele nas pessoas em geral, “típicas ” neste período festivo. Qual a diferença então? Parece que simplesmente na forma de expressão. Muitas vezes, respeitar uma pessoa com autismo nesses tempos festivos seria tentar reduzir seu sofrimento. Como? Reconhecendo que tanta festa pode não ter graça alguma para eles. Então reduzindo o tempo de permanência e pensando em como deixar tudo mais… Leia mais »

Eliana Cristina Gallo Penna

Cristina,
Boa tarde!

Precisamos muito e como, informar as pessoas.
Temos um longo caminho de aprendizagens a nossa frente.

Um forte abraço,
Eliana Gallo

Antonio Wanderley
Antonio Wanderley
6 anos atrás

Natal em família – conflitos de emoções, amar sem espera de retorno. Alerta aos desavisados – meu filho só quer estar por perto – ame-o! Suas palavras me encorajam e trazem clareza de que devo resistir, persistir no convívio familiar, porque no final vale a pena. Precisamos destas memórias.

Solange Helena Pereira
Solange Helena Pereira
6 anos atrás

Tenho um filho de 5 anos autista, o amo muito e procuro respeita lo ,pois ele precisa disso , foi muito bom ler isso tudo , tem dia que parece que é eu que estou fora da casinha kkk , mudei muitas coisas em mim para conviver bons momentos com ele .

Ana
Ana
6 anos atrás

Amei esse texto. Com certeza fico mais tensa que o meu filho, não por ele, mais pelo o que as pessoas vao pensar com algum comportamento que elas julgam ser “inadequado”. Já chorei muito e me magoei muito com essas saidas, hj aprendi a nao me importar tanto, a respeitar e aceitar o tempo dele, se não está bem, vou pra casa numa boa. O que importa é a felicidade dele e da minha familia, o resto, eu anulo.