Autismo e Natal, novos e necessários significados!

A gente sempre fala sobre como é necessário atribuir novos significados ao Natal, mas todos nós sabemos que as sedutoras campanhas publicitárias e o apelo comercial acabam impondo a este propósito de mudança o seu próprio valor: consumir pra ser feliz.

De repente a gente se vê na corrida para comprar presentes e percebe na maioria das vezes nossa própria expectativa da noite de natal, casada com a imagem que o comercial da TV nos mostra.

Nada melhor para ajustar realidades do que uma criança com Autismo na família. Embora a gente sempre esteja falando de particularidades de pessoas e não de generalidades da síndrome, eu vejo como sendo fruto do Autismo a dificuldade que minha filha tem de se ajustar a alguns padrões. O que, vamos combinar, é muito positivo na maioria das vezes.

Valores

postnatalmaquiage1Ao ver, por exemplo, crianças deslumbradas com a boneca da moda, com a roupa da marca tal ou até mesmo crianças que aos seis anos de idade tem tanta coisa, que não sabe o que pedir para o Papai Noel, sinto um certo alívio pela Milena não dar a mínima para televisão e não construir significados impostos. Eu não estou aqui atribuindo rótulos de certo e errado, não me entendam assim, apenas penso nos exageros… Se uma criança pensa em consumir, ok, faz parte… Mas se uma criança tem esse valor como o mais marcante em sua vidinha, não é possível que a gente não se preocupe ou pelo menos questione, embora a gente respeite as escolhas, não podemos simplesmente fechar os olhos.

A mania mais forte da Mi é assistir vídeos de crianças no YouTube. As vezes ela encontra vídeos de menininhas precoces na vaidade e na futilidade que me deixam muito triste. Mostram seus sapatos, suas maletas de maquiagem com dezenas de cores de maquiagem… Mesmo que eu não julgue os pais e muito menos a criança, não tem como não questionar o adulto que vai sair dali e os valores vazios que lhe estão servindo de base.

Na escola

No nosso caso, me preocupo apenas quando vejo que a Milena se entristece quando, em um grupo de meninas da idade dela, ela não consegue interagir justamente por lhe faltar estes valores. Milena está lá atrás no desenvolvimento de muitas competências e quando suas colegas estão na frente do espelho se maquiando animadas ela está pulando na ponta dos pés ao redor delas, provavelmente fazendo estereotipias (lembro que aprendi a passar lápis nos olhos depois dos 16 anos, colegas da Mi com 09 anos já fazem isso melhor que eu).

O quanto ela sente o desajuste e sofre com ele é justamente o ponto da minha preocupação, mas aquela preocupação natural de mãe, eu não transformo isso em um drama. No começo era frustrante ela não ligar pra presentes… não dava a mínima. Aos poucos foi entendendo e agora acredita em Papai Noel, em fada do dente e não fui eu que fiz isso 🙂 Foi na escola que ela construiu esse encanto e eu tenho que seguir um pouco contrariada em mentir.

Natais ricos de significados

PostNatalComPapaiNoelAno passado ela pediu um bey blade (pelamordedeus como escreve isso?), trinta reais (!) e um peãozinho cor de rosa a deixaram feliz. Este ano ela pediu Lego e eu amei!!! As habilidades desenvolvidas com o lego me interessam 🙂 E aqui em Londres tem lojas só de Lego, com mil pecinhas e possibilidades.

Então nesse Natal, quando nos lares das pessoas com Autismo algumas crianças ficarem muito felizes ao ganhar um alicate, outras um simples quebra-cabeças e talvez, a maioria delas, se encantem com as embalagens dos presentes, que a gente fique feliz e cuide de não desejar que nossos filhos estivessem na fila daqueles que foram massacrados pela mídia. De fato, Natal é mais que isso e tem que ser muito mais que isso.

Que a gente consiga diminuir nossa tendência em uniformizar todo mundo em um padrão que chamamos normal e aceitemos as diferenças, inclusive estas pessoas que optam por se uniformizar. Que a gente consiga calar a crítica, embora persista em questionar com respeito para que tudo não descambe de vez… Questionando, respeitando e acima de tudo exemplificando acredito que vamos construindo uma sociedade melhor e verdadeiramente mais inclusiva.

Que o nosso natal seja rico em significados, que cada pequeno gesto de gentileza valha mais que qualquer joia,, que o sentimento seja de gratidão pelo que temos e não de angústia pelo que falta e que a convivência seja de fato o ponto alto da festa de todos!

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