Discriminação na escola e na fila do supermercado

Como contei para vocês no último post, as escolas que visitei em Porto Alegre ficaram de me responder posteriormente se aceitariam ou não a minha filha e pasmem: todas negaram. Alegaram falta de vagas de inclusão, só que não existe um número de alunos que a escola tem que receber. Não há este limite, além do mais algumas delas tinha sim mais de uma sala para a turma que Milena irá, faltou mesmo vontade e sensibilidade.

Faltou humanidade e preparo, faltou coração. Uma delas, realmente, não tem vaga pois são apenas 12 alunos por turma e quem entra no maternal vai até o 4º ano. A coordenadora me disse que sentia muito e que, todo ano ela vive o drama de não ter para onde mandar os alunos que completam o 4º ano… disse que vive este drama a cada ano.

Uma pena! Depois disso, comentei na lista Autismo Brasil e meus amigos virtuais sempre muito solidários me deram sugestões e muitos me contaram que por lá realmente a inclusão está ainda mais atrasada do que por aqui. Eu fiquei impressionada, pois nunca poderia imaginar que uma capital fosse mais atrasada em qualquer aspecto do que uma cidade do interior de Minas. Eu chorei muito quando pensava em como alguém pode recusar uma menina tão doce como a Milena, confesso que não estava preparada para sofrer uma discriminação tão grande. Sei que vamos achar a escola, continuo contando pra vocês.

O que perdemos com a falta de inclusão

Hoje no supermercado como eu estava atrasada, então fui para a fila preferencial, não é que quando a moça me viu sozinha na tal fila ela chamou a próxima pessoa da fila “normal”? Eu nunca uso a preferência que a lei nos assegura, nunca mesmo! Mas hoje eu estava (e ainda estou) em uma correria para comprar a Ritalina, remédio controlado para melhorar a atenção sem o qual minha garotinha fica muito dispersa na escola. Eu precisava correr atrás do remédio e por isso resolvi pegar a famigerada fila. Quando reclamei, a caixa do supermercado me olhou de cima em baixo e disse que eu aguardasse e quando chegou a minha vez ela pediu para trocarem de atendente pois ela não queria me atender. Sabia que ia ouvir, pois viu que fiquei muito brava!!!

Quem vê a Milena não imagina que ela precise de atendimento preferencial. De fato, eu não tiro a vez de um idoso ou de um cadeirante. Mas ficar em uma fila de supermercado com Milena não é fácil, não! Ela fica perguntando o tempo todo, quer sair, aborda todo mundo, eu tenho que ficar explicando, traduzindo o que ela pergunta, é muito desgastante. Aquela moça nos julgou pela aparência e nos discriminou quando se recusando a nos atender, eu bem ia aproveitar para falar pra ela sobre Autismo.

Quando ela pediu para que outra me atendesse eu expliquei a ela bem calmamente: “Aqui minha querida, eu não vou te desacatar, não. Apenas reclamei por você ter deixado de atender a prioridade justo quando foi a minha vez”. Só que meus olhos estavam mareados e ela me disse que era melhor outra pessoa me atender.

Quer saber? Azar o dela, perdeu a oportunidade de aprender um pouco mais, perdeu em não conhecer a Milena. As escolas de Porto Alegre perderam em não receber a Milena, pois não tem quem conviva com ela que se não se apaixone, que não saia modificado de alguma forma. Perderam os alunos “normais” com a oportunidade de conviver com alguém diferente e perceber que o mundo é assim feito de gente de todo o tipo. Perderam muito!!!

Dia a dia

Agora vamos a um assunto muito mais ameno. Milena está apaixonada pelo Sítio do Pica Pau Amarelo na versão de 2001. Alguém da escola levou para as crianças assistirem “O Saci” e Milena tinha ouvido a fisioterapeuta cantando a música do Saci, então aquilo fez um sentido para ela, que já assistiu ao DVD umas “trocentas” vezes. Ela AMA a Narizinho… Olha a coincidência a música que a Rô escolheu para o blog (antigo) é justamente o tema desta personagem.

Ela me pede para colocar o DVD pausado na hora que a personagem aparece e assim a Narizinho fica “vendo” a Milena brincar, fica esperando a Milena voltar da escola. Quando vai dormir ela quer saber o que a Narizinho está fazendo e por aí vai… mais uma de suas manias que vêm e vão.

Ela tem usado de estratégias de comunicação fantásticas! Tatá disse outro dia: “Vou descer e pegar o jornal”. Após um bom tempo Milena perguntou se ela já tinha lido o jornal e ela não entendeu, Milena repetia, zonal, você lê… Quando viu que a irmã não iria entender perguntou: “O que você foi fazer lá embaixo?”. “Pegar o jornal”, Tatá respondeu e ela: “Então, é disso que eu tô falando!”

Um beijo pessoas do bem que me visitam. Obrigada pela parceria, significa muito pra mim.

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Carla
Carla
6 anos atrás

Estou adorando os seus textos! Tenho uma filha autista de 5 anos e as experiências são tão próximas às dá Milena. Obrigada por compartilhar essas vivências 🙂