Autismo e memória

Complicado quando escrevo um post inspiradíssima e ao tentar blogar ocorre um problema qualquer e perco tudo! Para quem tem uma memória de ameba igual a mim é complicado, pois tenho que pensar novamente no que quero postar. Não consigo lembrar nenhuma linhazinha sequer do que perdi!!!

Mi boa de memória

Falando em memória, estou feliz, pois tenho uma sobressalente por aqui. Minha memória externa é Milena, basta que eu peça a ela que me lembre de algo, mesmo que seja no outro dia e a fofa lembra mesmo!

Estive dia destes em um laboratório para colher urina para um exame de rotina. Entrei no banheiro, sentei no vaso sanitário e fiz xixi normalmente lendo o rótulo do potinho coletor. Quando terminei lembrei que deveria ter colhido o xixi, afinal fui lá só pra isso!!!

Este é apenas mais um dos meus micos… Aliás só mesmo a Karla e a Luiza se equiparam a mim 🙂 Hoje ao sair para a escola, na porta do elevador ela falou com espanto: “Ih, queci de toma meu remédio”. Na verdade eu tinha esquecido de dar…

Expressividade

Domingo à noite, ela quase nos matou de tanto rir. Tínhamos acabado de chegar de Uberaba, onde passamos alguns dias curtindo a casa dos avós. Ela estava contando sobre a viagem para a irmã: “Milena ficou pesa no quarto, colchão caiu e ela não seguiu abrir póta…” É mesmo Milena, e aí você ficou presa no quarto? “Ficou Tatá! Foi duro… muito duro.” 🙂

Este “foi duro” além de nos surpreender por ter sido algo que ela nunca falou, veio com uma entonação de quem está evocando um momento muito grave, acompanhado de um boquinha apertada que faz com que tenhamos realmente muita pena pelo que aconteceu!

Na verdade, ela não chegou a ficar presa, apenas não conseguiu abrir a porta e logo a vovó veio ajudar. Mas ela tem horror a ficar em um lugar sozinha, então para ela deve realmente ter sido “duro”.

Nestas férias ela também surpreendeu brincando sozinha, brincando com uma coleguinha que nos encantou por sua paciência e capacidade de compreender minha menina. Destas pessoinhas raras que se revelam bondosas desde a infância. Foi um período muito tranquilo a despeito da rotina completamente alterada que eu imaginava que traria grandes aborrecimentos.

Desafios e superações

Por sinal, estes episódios de birras, gritos, stress estão ficando cada vez mais raros. Nem acredito que sou eu quem está falando isso. Houve um tempo em que eu acreditava que tudo só iria piorar. Que à medida que Milena crescesse os desafios seriam sempre maiores. Hoje, finalmente colho os frutos da intensa rotina de terapias, da paciência, das horas no trânsito (quem me conhece sabe o quanto odeio dirigir), dos cursos, leituras e a dedicação de todos da família, da escola e dos profissionais que lidam com minha menina.

É claro que este cantinho ainda irá me ver chorar com palavras escritas na tristeza, na raiva e, talvez, quem sabe (embora eu espere que não), na desesperança. Pois o mundo tem ainda pouco espaço para a tolerância e o respeito às diferenças. Muitas vezes magoamos e somos magoados, mas no que diz respeito à minha menina eu tenho certeza que ela continuará sendo cada vez mais a minha fonte de alegria.

Os desafios estão aí visíveis e mensuráveis: a alfabetização, o treino para as habilidades sociais, a preparação para que ela não seja tão ingênua. Queria muito que ela não precisasse usar Ritalina, mas diante dos benefícios vejo que será difícil substituir, enfim… Há tanto o que fazer…

Mais do que os desafios para minha Milena, existe o enorme desafio de tentar auxiliar as outras pessoas com Autismo que tem necessidades tão grandes ou maiores que a minha filha e que não possuem recursos para prover terapias, tempo de pai e de mãe, adequações, estrutura. Nosso instituto – Autismo & Otimismo – tem feito muito pouco, embora esteja atuante, embora seja um ponto de referência, mas ainda assim, de concreto, tem feito pouco.

Um abraço a todos os nossos visitantes com o carinho de sempre!

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Rose
Rose
3 anos atrás

Muito bom