Fim da monografia e novos pensamentos

Foi uma fase bem complicada. Tudo na minha vida vem assim de uma vez só. Minha ajudante ficou doente e pegou uma licença de um mês, o elevador ficou quebrado por mais de quarenta dias, a gripe suína adiou a volta às aulas por duas semanas. E tudo no período de fazer a tal monografia! Mas terminei, ficou muito boa, modéstia à parte, e eu aprendi muito, mas fiquei também com muito mais vontade de estudar mais e mais sobre Autismo.

A pessoa com Autismo revela algumas facetas comuns a todos nós, mas passam despercebidas, ou passam rápido nas nossas vidas em pequenas fases ou então nós encobrimos bem com algumas camadas de verniz social…

Desejos, ímpetos e manias

Milena tem me feito pensar sobre isso. Ela está com aquela mania de querer tudo o que é dos outros. Bem, não é tudo, são coisas bem distintas e das mais variadas pessoas. Ela quer uma caneta de alguém, um chaveiro do outro, uma blusa ou um carro de outra pessoa. Nem sempre é bonito, novo ou chamativo, às vezes é até algo bem velho ou muito parecido com o que ela tem, mas ela cisma e pronto.

Ela tem uma amiga, que é especial e linda, a Dani. Pois ela queria o shampoo da Dani e a tia Sylvia deu, depois ela quis a toalha, quis a blusa mas eu não deixei ela ganhar tanta coisa. Hoje a Dani esqueceu a blusa no meu carro e a Mi ficou muito feliz e passou o dia todo perguntando: “Dani tem outra blusa? Amanhã Dani vai esquecer ovo (de novo)? Essa blusa é minha mamãe, Dani deu?”.

Eu fico me perguntando se todos nós não temos em algum grau todos estes desejos, ímpetos e manias… Eu vejo que todos desejam ou admiram o que é do outro. Mas em um grau muito, muito mais leve. Nossos mecanismos internos se ajustam rapidinho e percebemos logo que o objeto é bonito, legal, desejável, mas é do outro. E, de certa forma, isso fica resolvido dentro da gente. Para a Mi, no caso, isso é um pouco mais difícil. Outras pessoas com autismo são outras coisas, que acabam virando mania e que todo mundo tem, mas consegue controlar.

Como vai a Mi

Por outro lado ela continua adoravelmente educada. Ela pede algo, fazemos e ela sai com um “bigádo mamãe”, com aquela entonação mais carinhosa, bem mineira, bem cantada. Outra hora é “por favor”, “desculpa” ou, ainda, dá boa noite, cumprimenta as pessoas, os porteiros, vendedores. É um docinho. Não fosse a estereotipia, as birras nos momentos de frustração, as dificuldades de aprendizagem e outros pequenos detalhes eu diria que ela é uma menininha bem comum.

Mas não é bem assim. Agora por exemplo ela está dando boa noite e dando beijo para o cabelo da Tatá, outra mania forte, ah! Essa menininha!

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