O Arco-Íris

Difícil descrever nossa experiência com a percepção da Milena. Quando ela ainda era um bebê, tentávamos em vão lhe mostrar objetos, coisas que estavam longe ou perto. Seu olhar era vago, não se fixava no que estávamos apontando. Hoje sabemos que, muitas vezes, ela parece não olhar, mas depois nos dá notícia daquilo que achávamos que ela não tinha enxergado.

O tempo foi passando e muitas vezes nós apontávamos: “Olha filha, o Papai Noel”, “Olha o passarinho”. E sempre nos acompanhava a frustração pela absoluta falta de resposta ou atenção. Será que ela entendia? Sabia o que era Natal, bolo de aniversário, noiva?

Um jeito diferente de prestar atenção

Antes da fala surgir era angustiante não sabermos até que ponto estas coisas do nosso cotidiano eram reais para nossa filha. Aos poucos, com a fala surgindo, aprendemos que Milena tem um jeito diferente de prestar atenção e, mesmo que não olhe fixamente, ela vê o que estamos mostrando. Ainda hoje ela raramente fala na hora, mas depois, ela se lembra do que mostramos ou conta para alguém: “Nenêna viu fô, ósa, pôto, tal” (flor, rosa, aeroporto, Natal).

Nos primeiros anos de Milena, eu me decepcionava por não conseguir reações ao mostrar as belezas do Natal. Mas a cada ano ela prestava mais atenção e este conceito – que não fez sentido aparente nos outros anos – ela agora fala com desenvoltura. Ano passado comprei uma árvore bem grande, este ano ela cobrou a montagem da árvore.

Um milagre de Natal

Acabo de presenciar um diálogo dela com sua madrinha que demonstra que ela sabe mais do pensávamos. Falavam sobre a árvore de Natal da casa da avó quando ela apontou para as caixinhas de presentes que estavam em baixo da árvore:

– Pêente? – perguntou pra madrinha

– É Milena.

– Papai éel deixou?

– Foi Milena, papai noel trouxe.

– Papai eél vai levá pêente nenêna minha casa.

Eu não falei sobre isto com ela este ano, não mencionei que Papai Noel traz presente ou se vai trazer para ela. Então, deduzo que tudo o que ela viu e ouviu neste e nos outros anos, quando eu achava que ela não entendia. Junta-se com o que ela vivencia na escola e ouve das pessoas e quando ela verbaliza demonstra que o conhecimento está construído (nada que Piaget não explique). Para mim naquele momento é como se um milagre acontecesse.

Ílis?

Esta semana apareceu no céu um arco-íris perfeito, delineado à frente de uma forte massa de nuvens cinza escuro, de forma que o víamos com nitidez. Algumas crianças estavam na calçada olhando e mostrando para os adultos. Apontei para o céu e mostrei: “Olha, minha filha, o arco-íris, que lindo!” Ela olhou com aquele olhar sem rumo e perguntou: “Ílis?” “É sim minha linda, olha quantas cores!” Ela se vira pra mim e diz: “Vamos tacão (natação)?”

Suspirei fundo me perguntando se ela teria visto o arco-íris no céu. Pode até ter visto eu penso, mas não fez sentido para ela naquele momento. Vamos ajudá-la a construir este conceito para que ela em breve também vivencie a mágica experiência de perceber um arco-íris se abrindo no céu como um sorriso de Deus a nos dizer que mesmo as mais fortes tempestades, podem trazer novas cores à nossa vida.

Um forte e longo abraço a todos, obrigada pela visita.

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