A inclusão necessária

Milena tem tido muita facilidade em se comunicar e a cada dia que passa nos mostra o quanto está ligada em tudo o que acontece à sua volta. Toda criança é assim, eu sei. Mas como as respostas dela frente às situações do dia a dia são diferentes, a tendência é pensar que ela não compreende as coisas. Por não demonstrar suas emoções no nosso tempo, a gente acha que ela não estava “ligada”.

Pois que nada, ontem nós saímos e ela ficou em casa com a irmã. Seu pai estava insistindo para vestir uma roupa nela e ela se esquivava:

– Péla papai! Tô bincando!

Quando eu ouvi, disse para ele não se apressar que ela não iria conosco. Ainda assim ele a chamou novamente para trocar de roupa e aí ela se levantou na mesma hora dizendo para o pai: “Vamos?”

Quando chegamos ela me disse: “Nêna comeu carrão (ela ama macarrão)”. Então a irmã disse que apesar dela já ter jantado, teve que fazer macarrão para a Milena. Na mesma hora, Milena se explicou:

– Tatá fez carrão dela, nêna não pode comer. Nêna pediu e tatá fez carrão nenêna.

Ou seja, minha irmã fez miojo eu fiquei com vontade. Como não posso comer, ela teve que fazer o meu sem glúten.

Palmadas, choro e remorso

Outro dia ela estava muito chata, nas suas crises de irritação e eu não aguentei. Pedi mil vezes para ela parar de gritar e como nada fazia que ela parasse os estridentes berros, eu ameacei bater. “Vou dar uma palmada no seu bumbum se você gritar assim mais uma vez!” Ela então disparou a gritar várias vezes e eu dei várias palmadas.

Ela caiu no choro, o choro mais sentido do mundo, só pra me matar de remorso, já que eu nunca bato nela. No meio do choro ela olhou bem pra mim e saiu com essa: “Vou contar papai” – e contou quando ele chegou do trabalho à noite.

Inclusão em todos os lugares

É impressionante como ela sabe tudo, entende tudo. Ao mesmo tempo é uma pena que a forma que ela se utiliza deste saber é tão inadequado para as regras sociais a que todos estamos submetidos. Isso faz com que ela só seja aceita por quem a conhece. Quando chega em um ambiente diferente as pessoas olham sem entender e as crianças riem.

Na escola, sua turma a acolhe muito bem e até a protege. Mas as crianças das outras turmas olham desconfiadas… Eu sei que ela sofre em muitos momentos por não ser aceita. Se eu pudesse talvez a poupasse deste mundo preconceituoso e injusto. Mas eu não posso.

Por isso, mesmo sofrendo, levo-a a todos os lugares. Insisto na escola para crianças neurotípicas, pois só assim ela irá aprender. Com coração apertado, deixo minha menina tão doce e ingênua entregue ao seu anjo da guarda pedindo que suas dificuldades continuem a diminuir gradativamente.

Fico por aqui, agradecendo o carinho de quem nos visita.

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