Saguão de um shopping.

Construindo pontes: minha história

Escrito por William Rice, voluntário no National Autistic Society (Glasgow, Escócia)

Desde o dia em que comecei minha vida escolar dei-me conta de que era diferente (…) Meu isolamento social era evidente desde cedo.

As dificuldades que tive para relacionar-me com os outros eram interpretadas pelos médicos como “é tímido, tem pouca segurança; não se preocupem, é uma fase, crescerá e mudará”. Quando disse aos médicos e nutricionistas que só podia comer certas comidas pois minha língua era extremamente sensível, só encontrei descrédito. Disseram-me que estava passando uma fase e que mudaria.

Depois de 7 anos de relativa segurança na educação primária, a secundária foi uma experiência horrorosa e me provocou uma grande depressão, com numerosos pensamentos de suicídio. Ajuda-me, rogava, ajuda-me!. A resposta foram os tranquilizantes. Tratando os sintomas mas, como sempre, ignorando a causa e evitando escutar o que dizia.

(…) Senti-me completamente alienado durante minha estada na universidade. Todos tinham suas vidas e eu não tinha nada.

(…) O filme “Rain Man”, transmitido pela televisão um pouco antes de terminar a Universidade, deixou-me pensando se eu não seria autista. Foi como olhar para um espelho. Pude ver muito de mim em Dustin Hoffman. Disse a mim mesmo que minhas dificuldades não eram tão graves e que não poderia ser autista. (…) Li mais adiante sobre autismo e me dei conta então de que minhas dificuldades tinham uma explicação: autismo.

Os quatro anos seguintes entre a Universidade e meu diagnóstico foram um exercício de sobrevivência; (…) Finalmente, em novembro de 1996, depois de meu 25º aniversário tive a resposta que esperava: era autista.

Pela primeira vez em anos, tive esperança. Com o diagnóstico vinha a promessa de respostas a muitas questões. Este sentimento de renascer não durou muito. Este conhecimento novo começou a parecer-me uma sentença de morte.

(…) É vital que o diagnóstico de Autismo e Síndrome de Asperger se faça o mais cedo possível. Os problemas que surgem em médio e longo prazo podem prejudicar e levar a cabo uma estratégia. Com minha trabalhadora de apoio Diana, comecei a saber como iniciar e manter uma conversação e me senti como se houvesse escalado o Monte Everest com um piano nas costas. Isso é exatamente o esforço que representava para mim. Evolui muitíssimo como pessoa desde que fui diagnosticado.

Comecei a trabalhar voluntariamente com a Sociedade Nacional de Autistas de Glasgow em 1998, com a esperança de que falando de minhas experiências, a qualidade de vida de todos nós autistas possa melhorar.

(…) Sinto-me agora mais “na onda”, como os outros dizem, sem necessidade de ter que repetir-me e me vejo respondendo de maneira mais natural; uma mudança que muitos têm notado e comentado. Todos os que temos transtornos do tipo autista temos diferentes necessidades e por isso é vital escutar esses autistas e a suas famílias.

Todo tipo de apoio deve reconhecer que embora o autismo seja uma parte muito importante do que eu sou, não é tudo o que eu sou. Pais e profissionais deveriam reconhecer que não somente nós podemos aprender com eles mas eles também podem aprender muito conosco.

Trabalhando juntos, pais, profissionais e pessoas autistas têm um potencial de melhorar a qualidade de vida do indivíduo autista. Todos nós podemos ajudar a construir essas pontes.

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